quinta-feira, 20 de dezembro de 2007
Na trilha de Che Guevara
O argentino é lembrado hoje pelos 40 anos de sua morte: cinema, música e lançamento do livro do cubano Tirso Sáenz
A efeméride pula do calendário e invade a praça e o mercado. Hoje, a partir das 17h, Che Guevara é lembrado em dois lugares da capital pelos 40 anos de sua morte - ele foi assassinado a nove de outubro de 1967. O evento, promovido pela Funcet, transforma a data numa tentativa de lembrar e discutir a importância de Che para a América Latina.
Para tanto, será exibido o filme “Diários de Motocicleta”, de Walter Salles, no Centro Cultural Sesc Luiz Severiano Ribeiro. Em seguida, no mesmo lugar, Tirso Sáenz, autor de “O Ministro Che Guevara” (Garamond), conversa com o público sobre a experiência de ter trabalhado com o revolucionário. A partir das 20h, no Mercado dos Pinhões, o projeto Quinta Cultural recebe Tirso para o lançamento do livro dele, de 2004. Na seqüência, apresentam-se a pianista cubana Litsia Moreno e o grupo de cocos Meu Amigo Imaginarium. DJ Renatinha fecha a noite.
Che foi ministro de Indústrias de 1960 a 65. O escritório, a rotina de ministro, a burocracia não arrefeceram o espírito revolucionário do argentino. E era comum vê-lo caminhando entre operários e trabalhadores procurando saber em que se podia melhorar o setor em Cuba. Imagens como essa são descritas por Tirso no livro. “Minha relação com ele, pessoal, foi muito boa. Aprendi muito com ele. Antes eu não era um revolucionário, não combati na Sierra Maestra. Pensei inclusive em sair do país. Mas ele achou que eu poderia ser útil em algumas tarefas. Me apoiou. E eu me converti à revolução”, contou o aposentado em entrevista por telefone ao Caderno 3 - de Brasília, onde mora há cerca de 10 anos. Ele conta que o fascínio exercido por Che foi algo que transformou a vida de muitos cubanos. “A solução de muitos problemas, para Che, era ouvir as pessoas sobre esses problemas”. Saber ouvir, um dos seus grandes ensinamentos.
“Outra coisa que caracterizava Che era uma visão estratégica. Ele acompanhava todas as ações com uma visão estratégica. E era muito exigente”, continua. O Che poeta também é lembrado, ao lado Che preocupado em desenvolver a cultura e a educação de Cuba. Ações que se refletem até hoje na casa. “Cuba é um país que não tem analfabetos. A vida cultural do cubano é ampla. Che adorava toda a cultura. Era um poeta natural, apreciava muito a literatura, era uma pessoal muito culta, com grande interesse pela questões culturais”, lembra Tirso.
Parece quase impossível se furtar ao mito. Como no filme de Walter Salles, as tentativas de dizer do homem que Che foi acabam por aproximá-lo ainda mais da figura mítica.
Serviço:
Às 17h, exibição do filme ´Diários de Motocicletas´ no Cine Sesc São Luiz, na Praça do Ferreira. Em seguida, debate com o cubano Tirso Sáenz. Às 20h, Quinta Cultural no Mercado dos Pinhões (entre as ruas Nogueira Accioly e Gonçalves Ledo). Lançamento do livro de Sáenz, ´Ministro Che Guevara´. Show com a pianista cubana Litsia Moreno. Mais informações: (85) 3105.1410/3105.1358
Júlia Lpoes
Repórter
terça-feira, 18 de dezembro de 2007
'Inimigos' não querem avanço do Mercosul, diz Lula
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou nesta terça-feira (18), em discurso na 34ª Reunião de Cúpula do Mercosul, que "inimigos internos e externos" do bloco não querem ver o seu avanço. Entre os inimigos internos, Lula mencionou claramente os corpos técnico e burocrático dos quatro países sócios do projeto.
O presidente reconheceu, entretanto, que se a integração não se aprofundou como deveria nos últimos anos, "a culpa é eminentemente nossa". Para ele, para os temas de integração, a vontade política deve prevalecer sobre as decisões técnicas.
"O Mercosul é como um filho que colocamos no mundo e, às vezes, somos tão exigentes com ele que só vemos coisas feias nele. Dentro dos nossos governos, das nossas burocracias, há gente que não assimila o Mercosul", afirmou Lula, para acrescentar em seguida que muitos prefeririam que os membros do bloco firmassem acordos comerciais com os Estados Unidos e a União Européia.
"É como dizer para nosso filho que ele é feio, tem nariz grande, orelhas grandes. Vamos colocar um pouco de beleza nesse filho. Esse filho pode produzir mais. Não usamos nem 40% do seu potencial."
Logo ao lembrar que ainda lhe resta três anos de mandato, o presidente Lula defendeu que será possível avançar, nos próximos dois anos, o que "não avançamos em dez anos no Mercosul".
Dirigindo-se como "o decano do Mercosul" à presidente da Argentina, Cristina Kirchner, que assume a partir desta terça-feira a presidência temporária do bloco, Lula aconselhou a conclusão das medidas que eliminarão a dupla cobrança da Tarifa Externa Comum (TEC).
"Se a gente ceder à burocracia interna e aos que sonham em vender tudo para os Estados Unidos e a União Européia, não daremos o salto de qualidade", afirmou.
Venezuela e Bolívia
Ao defender que a "vontade política" se sobreponha às decisões técnicas no processo interno do Mercosul, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou claro que tal princípio prevaleceu nos dois acordos firmados nos últimos dias pela Petrobras com a Petróleos de Venezuela (PDVSA) e com a Yacimientos Petrolíferos Fiscales de Bolívia (YPFB). Lula citou os dois casos como exemplos da imposição da decisão política.
"Quando chegamos lá, nem a PDVSA nem a Petrobras estavam de acordo. Precisamos chamar (os presidentes das duas empresas) e dizer que tinham um acordo a cumprir", afirmou, para em seguida lembrar que apenas foi concluída a criação de uma das empresas - a que vai construir e operar a refinaria Abreu de Lima, em Pernambuco. A segunda empresa - que deverá explorar e produzir petróleo nas jazidas de Carabobo1 - deverá ser criada somente na reunião bilateral de março de 2008, informou Lula.
No caso do acordo Brasil-Bolívia, firmado na última segunda-feira, o desentendimento técnico repetiu-se. "Como na Venezuela, eu e o Evo (Morales, presidente da Bolívia), chamamos as duas empresas e, em 10 minutos, elas fizeram o acordo", relatou o presidente Lula.
"O tempo da política não é o tempo do técnico. Se passa a impressão que eles (os técnicos) defendem a empresa com mais amor que a gente (os presidentes) defende, como se nós tivéssemos mudado de empresa", reclamou.
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