domingo, 20 de julho de 2008

Desejo de perpetuar relíquias


Quixadá. Uma verdadeira relíquia erguida sobre o tempo. O velho casarão da família Holanda, levantado à custa de muito trabalho e suor, entre mandacarus e monólitos, à margem da antiga estrada de Baturité, na zona rural de Quixadá, a poucos quilômetros do Centro da cidade, preserva exatamente seus traços originais. Herdeira de Maurício e Heloísa Holanda, a viúva Guiomar Holanda compartilha com os filhos o desejo de assegurar que as enormes portas e janelas, dezenas delas, a se espalharem pelos corredores da Casa de Fazenda centenária, se mantenham ali por toda a eternidade.

Nesse propósito, o acervo imobiliário e os móveis da Fazenda Fonseca, como é conhecido o patrimônio familiar, está sendo catalogado em busca da certificação de sua originalidade junto aos órgãos patrimoniais públicos. O objetivo é apresentar o projeto à Secretaria de Cultura do Estado (Secult) e ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Com o reconhecimento dos bens, com origens no início do século XIX, será possível proteger o solar sertanejo da especulação imobiliária que avança no município.

A matriarca justifica sua iniciativa ressaltando que a cultura sertaneja é muito expressiva. Por esse motivo é preciso preservá-la, por meio da memória popular e das histórias imaterial e material. O imóvel rural, sua mobília, bens pessoais, juntos, formam um interessante conjunto cultural. “Dessa forma estamos garantindo às futuras gerações o conhecimento dos hábitos dos que desbravaram estas terras. Tenho esperança de ver meus netos, bisnetos e tataranetos orgulhosos da Fazenda Fonseca, onde cresci entre juazeiros, carrapateiras e o sol escaldante do nosso Sertão”, comentou Guiomar.

Filmes

No entanto, ao se observar o rústico monumento sertanejo nesta época do ano, no fechamento do período invernoso, é perceber que além de cenário para épicos cinematográficos — como “A morte comanda o cangaço”, do diretor Carlos Coimbra (1960) e “O Quinze”, de Jurandir Oliveira (2002), ainda as produções culturais “Jader de Carvalho”, de André Lopez e Clébio Ribeiro (2006) e “Siri Seará”, do cineasta Rosemberg Cariri (2007) — a consciência cultural-histórica está florescendo no semi-árido nordestino, a partir dessa semente que está brotando na Fazenda Fonseca, em Quixadá.

Se depender do vizinho, Nemésio Bezerra Holanda, a Fazenda Magé, situada do outro lado da estrada, pertinho dali, as marcas do passado estarão asseguradas por muito tempo. Embora o patrimônio da família tenha sido erguido faz pouco mais de três décadas, a coleção material é invejável. Além de uma preciosa biblioteca, com mais de 800 exemplares, dentre os quais peças raras como a primeira edição do romance “O Quinze”, de Rachel de Queiroz, artes plásticas de Afonso Lopes e Ascal, uma vitrola de concha e muito mais, formam o rico relicário. Está tudo espalhado pelos vãos da aconchegante morada, privilegiada pelo sossego e pela paisagem singular da região.

Disposição

O empresário do setor imobiliário e ambientalista se diz disposto a preservar a coleção familiar. Elogia a iniciativa de Guiomar Holanda e seus filhos. Considera um excelente exemplo para tantos outros que preferem trocar suas riquezas hereditárias pelos atrativos tecnológicos. Ele avalia que não é difícil harmonizar peças do passado com os inventos do presente. Juntos, criam um interessante ambiente, digno de ser apreciado por qualquer um, antiquista ou modernista.

“É importante preservar a nossa identidade para saber o que fomos e o que seremos sem que distorçam o que somos”, reflete Nemésio.

Mais informações:
Fazenda Fonseca: Guiomar Holanda (88) 9222.8857
Fazenda Magé: Nemésio Bezerra (88) 3412.0467

Alex Pimentel
Colaborador


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