quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Transposição é apontada como alternativa para evitar colapso no mais antigo reservatório do País


Quixadá. Ribeirinhos do Açude Cedro voltam a lutar pela transposição de águas para este reservatório. Desiludidos com o projeto da adutora Pirabibu - Cedro, os moradores próximos ao açude apontam, como alternativa, a transferência das sobras hídricas dos açudes Fogareiro e Quixeramobim para o reservatório do Cedro, concluído no início do século passado e considerado o mais antigo reservatório público construído no País.

O objetivo é minimizar os efeitos da estiagem na região, pois eles temem que o Açude Cedro volte a secar completamente no próximo ano. A justificativa está na sangria, na quadra invernosa, das duas barragens vizinhas. Anualmente, transbordam por mais de um mês. Por meio de um sistema de bombeamento, o desperdício — como consideram o excesso despejado no Rio Quixeramobim que acaba desaguando no mar — poderá ser despejado na represa de Quixadá.

O agricultor Augusto Lúcio de Freitas, 42 anos, representa as comunidades existentes às margens do Cedro. Ele critica a morosidade dos governos municipal e estadual no desenvolvimento de alternativas viáveis para solução do problema. Avalia o projeto de transposição do Pirabibu como águas passadas, melhor, nem chegaram a passar pela rede de dutos com destino ao reservatório público que não atingiu sequer 10% de sua capacidade na última estação chuvosa. Preocupado com a situação, Freitas mobiliza permissionários e comunidade em busca de apoio político para a concretizar alternativa idealizada há algumas décadas.

Augusto de Freitas diz ter localizado os piquetes cravados por engenheiros do Estado há mais de 20 anos, quando fizeram os estudos topográficos viabilizando a interligação da Bacia do Banabuiú ao Cedro. Agora, se empenha no sentido de localizar o projeto original, provavelmente nos arquivos da Secretaria de Recursos Hídricos do Ceará (SRH). Ele afirma ter feito a solicitação à gerente regional da Companhia de Gerenciamento de Recursos Hídricos (Cogerh), Telma Oliveira de Almeida Pontes, departamento subordinado à SRH.

A gerente confirma o pedido. Esclarece que os contatos foram mantidos com o Núcleo de Engenharia da SRH. Aguarda a confirmação dos estudos apontados pelo representante comunitário. Enquanto isso, ela pondera acerca da necessidade da Comissão Gestora da Bacia Hídrica do Cedro se articular no sentido de discutir o assunto. Cabe ao órgão paritário a decisão sobre a viabilização e utilização do novo sistema adutor. A proposta também deve ser avaliada e aprovada pelo colegiado do Comitê Gestor da Bacia do Banabuiú.

Há necessidade de discutir o projeto. De acordo com o ambientalista Osvaldo Andrade, um dos articuladores do movimento, a gerência regional da Cogerh se prontificou a formar uma comissão especial para analisar a alternativa apresentada. Assim como Augusto de Freitas e mais de cinco mil habitantes de 17 comunidades a entornarem o Açude Cedro, aguarda com expectativa a aprovação da captação hídrica que poderá propiciar a revitalização econômica e do ecossistema daquela área, incluindo o Rio Sitia, um dos principais mananciais do local.

Projeto

Os articuladores da transposição do Cedro garantem a existência do projeto. Augusto de Freitas afirma que o processo é simples. Nele, está prevista a construção de uma estação elevatória no topo do Serrote do Boqueirão de Santo Antônio, nas proximidades do Hospital Regional Dr. Pontes Neto, em Quixeramobim. Serão aproximadamente 100 metros até a barragem de concreto. Dali, a água chegará por meio de dutos de aço, por gravidade, até o Riacho Caracol. Serão 23km até o afluente do Rio Sitia que se encarregará dos 6km restantes até a represa de Quixadá. Segundo o permissionário, o investimento será de R$ 6 milhões, inferior aos R$ 18 milhões gastos pelo governo passado no projeto do Pirabibu. Ele explica que há solução inclusive para a despesa com o bombeamento da adutora.

NÍVEL MORTO

Cedro registra 8,4% da capacidade

Quixadá. A capacidade total do Açude Cedro está comprometida. De acordo com a Cogerh, o açude possui apenas 8,4% do total de volume de água acumulada. De acordo com a gestão anterior da SRH, o abastecimento da população urbana de Quixadá e o reforço do volume afluente do Cedro eram as prioridades do sistema integrado de transferência de águas do Açude Pirabibu. Este último reservatório foi construído para armazenar 74 milhões de metros cúbicos, incluindo duas estações elevatórias com capacidade de bombeamento de 300 litros por segundo, uma adutora de água bruta com extensão de 16km, e outra com 24km.

A estrutura atual potencializa a perenização de trechos do Rio Sitia, dependendo, porém, do volume acumulado no Pirabibu. Enquanto isso, a barragem de Quixeramobim está a 2% de seu volume total e o açude Fogareiro ainda sangra.

A adutora deveria revitalizar o mais importante reservatório de Quixadá, patrimônio histórico tombado pelo Iphan e provedor de água potável para a cidade. O açude atingiu seu volume morto em 1985 e 1999. O esvaziamento atrapalhou o turismo e causou baixa estima e falta de água para os quixadaenses. A transposição do Pirabibu para o Cedro surgiu como a solução para o problema, integrando com a bacia hidrográfica do Banabuiú.

Construção

O Cedro teve sua construção iniciada em 1888, ano da abolição da escravatura. A ordem partiu do Imperador D. Pedro II. Somente depois de 18 anos, o reservatório foi concluído. Em toda a sua história o açude sangrou apenas cinco vezes. Sua capacidade de armazenamento é de 126 milhões de metros cúbicos; o Fogareiro comporta 118,8 milhões de metros cúbicos; o Pirabibu, 74 milhões; e o Quixeramobim, 54. Está prevista a instalação de uma turbina geradora de energia elétrica na barragem do Fogareiro. O funcionamento assegurará, pelo menos, dois metros de lamina d´água a cada ano no Cedro. Dentro de quatro anos, o açude poderá sangrar novamente com o acúmulo de água.

ALEX PIMENTEL
Colaborador
Diário do Nordeste

Mais informações:
Secretaria de Recursos Hídricos do Estado do Ceará
(85) 3101.3994 / 3101.3995
Cogerh
(88) 3441.4482

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