quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Acordo garante vitória a todos os candidatos em cidades do RS


Jacutinga e Alegria, no norte do estado, têm um candidato a prefeito cada.
Nos dois municípios, há nove candidatos para nove vagas de vereador.
Em pelo menos dois municípios do Brasil, o eleitor pode até ter dúvida ou mesmo não saber em quem vai votar, mas uma coisa ele já tem certeza: quem será o novo prefeito e também os vereadores.
Em Alegria e Jacutinga, na região norte do Rio Grande do Sul, só há um candidato a prefeito e nove a vereador. Detalhe: em cada um dos dois municípios só há nove cadeiras na Câmara.
Em ambos os casos, líderes dos partidos locais fizeram um acordo para dividir o poder que eliminou a disputa eleitoral.



Segundo o Ministério Público Eleitoral do Rio Grande do Sul, o acordo não é ilegal. Todos os candidatos integram a mesma coligação, "Jacutinga: União e Desenvolvimento". "Mas causa perplexidade", afirmou o coordenador de gabinete do MP Eleitoral, Daniel Rubin.
Jacutinga
O acordo em Jacutinga prevê que todos os seis partidos integrantes da única coligação da cidade (PP, PMDB, PDT, PT, PSDB e PTB) tenham, no mínimo, um representante na Câmara, o comando de uma das seis secretarias municipais. Quatro dividirão a presidência da Câmara, um a cada ano da próxima legislatura.

Pelo acordo, por exemplo, o PP ganhou de um lado, mas perdeu de outro. Enquanto pôde manter o cargo de prefeito, com Edegar Antonio Menin, o Dega, cedeu duas das quatro cadeiras na Câmara.

Uma das pessoas que perderá o lugar será justamente a atual presidente da Casa, Lenira Bavaresco. "Mas pretendo continuar na política" disse a vereadora, de 54 anos, "nem que seja nas eleições de 2012".
Quem desistiu da política foi o candidato a prefeito derrotado nas duas últimas eleições, Milvo José Tortelli. Em 2004, ele perdeu para Dega por 1.560 a votos a 1.164. "Muitos estão lá só por conta do salário", disse ele.

Por outro lado, três dos atuais vereadores seguirão no cargo: Roselio Marmentini, o Géio (PP), Lainor de Maman (PMDB) e Luiz Ferronato (PSDB).

Para convencer a cidade, os futuros representantes da cidade estão marcando encontros com a população para explicar o que foi feito e também por que tomaram tal atitude. Eles disseram que uma parcela dos habitantes não aprovou o acordo.

"Não estamos preocupados com o povo agora. Inicialmente não vamos pensar no povo, naqueles 30% que estão contrariados. Daqui a um ano, a gente volta a conversar", afirmou o futuro prefeito Dega, ao lado de oito dos nove candidatos e também do futuro vice-prefeito, que é do PT.

"Tem muita gente na população descontente porque não tem mais compra de votos. Agora, não tem mais festinhas, e nos encontros só aparecem umas 15 pessoas. Antes, eram 150, 200 pessoas, porque tinha bebida e comida de graça. E também agora não tem mais essa de encher o tanque de combustível antes das eleições", disse Valdir Sangalli, líder do PT.
Mas então havia compra de votos? "Não, algumas pessoas é que pediam, mas sabemos que isto havia aqui sim", disse Sangalli.
Os candidatos e também os líderes do partido disseram ainda que o fato de terem gastos reduzidos com campanha eleitoral - a cidade não tem horário político e são poucos os candidatos que pagam para adesivar carros de moradores da cidade – é uma vantagem econômica.

Afinal, como estão todos eleitos, não é preciso fazer campanha. De qualquer forma, eles deixam claro que há uma disputa interna. "Ninguém vai querer terminar em último lugar", disse Oládio, um dos novos vereadores, ou melhor, ainda candidato a vereador
Alegria

Em Alegria, os nomes dos futuros prefeito e vereadores também foram escolhidos por meio de acordo entre os prefeitos. O prefeito Nego Santi será reeleito e também já sabe com quem trabalhará na Câmara dos Vereadores e qual partido assumirá cada secretaria.

“Achamos melhor chegar a esse consenso porque em época de eleições era bem violento”, afirmou Juarez Antonio da Silva, que perdeu em 2004 para prefeito por 197 votos de diferença (1807 a 1610).

Silva contou que em 2004 ele e a mulher foram alvos de atentados. “Os embates eram violentos, nossos carros foram apedrejados em emboscadas noturnas”, contou.

Ele relata que o acordo aconteceu justamente por conta da violência eleitoral e da economia. “O município é muito pobre, os recursos são poucos. Achamos que esse pode ser um bom caminho para a cidade”, disse. "Teve gente que não gostou, mas são aqueles que pediam algo em troca pelo voto, como comida, combustível ou favores na Prefeitura", completou.

Como em Jacutinga, a Câmara foi dividida para que todos os partidos tivessem representação. Assim, o PP, que seguirá com o prefeito, perdeu uma cadeira para o PTB e terá quatro vereadores. O PMDB manterá duas e o PDT e o PT, uma cada.

“Fizemos isso para o bem da cidade”, afirmou Rodolfo Eduardo Heck, o Bubi, que seguirá no cargo de vereador – em 2004, ele foi o mais votado. “Agora temos mais tranqüilidade. Aqui o clima era meio ferrolho, tinha muita rivalidade”, completou ele.

De acordo com Bubi e Silva, o acordo entre os partidos valerá até as eleições de 2012. Segundo eles, a diferença é que daqui a quatro anos a Prefeitura de Alegria será da oposição (deve ficar com o PT), enquanto o PP ficaria com cinco vagas na Câmara e com o vice-prefeito.

Fonte G1.com

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