quarta-feira, 24 de setembro de 2008

LULA NA ONU PEDE FIM DA CRISE


Em discurso na ONU, presidente afirmou que países ricos praticam ´sem constrangimento nacionalismo populista´

Nova York. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu, ontem, durante discurso na 63ª Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, ´uma ação coordenada dos governantes, em especial naqueles países que estão no centro da crise´´ para ´combater a desordem que se instalou nas finanças internacionais´´.

Segundo Lula, ´medidas paliativas´´ não irão superar ´uma crise de tais proporções´´, que será contida somente com ´mecanismos de prevenção e controle e total transparência das atividades financeiras´´. ´Somos muito maiores do que as crises que nos ameaçam´´, acrescentou o presidente.

Durante o discurso, Lula criticou também um suposto ´nacionalismo populista´´, que alguns pretendem identificar e criticar no ´sul do mundo´´, afirmando que ele também ´é praticado sem constrangimento em países ricos´´.

Como de praxe, o presidente do Brasil foi o primeiro a discursar durante o encontro anual da Assembléia Geral. Em seguida, discursaram os presidentes dos Estados Unidos, George W. Bush, e da França, Nicolas Sarkozy. Segundo a ONU, pelo menos 79 chefes de Estado e 38 chefes de governo estão presentes no evento.

Na noite de hoje, uma reunião de alto nível entre chefes de Estado, convocada pelo primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, discutirá a crise financeira internacional.

Ontem, Lula disse que ´a ausência de regras favorece os oportunistas, em prejuízo das verdadeiras empresas e dos trabalhadores´´ e que ´as indispensáveis intervenções do Estado mostram que é chegada a hora da política´´. Durante o discurso, Lula lembrou que ´o Muro de Berlim caiu´´, ´mas é triste constatar que outros muros foram se construindo´´. O presidente defendeu a retomada das negociações da Rodada Doha, afirmando que ´muitos que pregam a livre de circulação de homens e mulheres, com argumentos nacionalistas - e até racistas - que nos fazem evocar temerosos tempos que pensávamos superados´´.

Lula falou também sobre a crise na Bolívia, afirmando que a Unasul, grupo que congrega todos os países sul-americanos, deu ´uma resposta rápida e eficaz´´ e que apela ´ao diálogo como caminho para a paz´´.

Críticas a Bush

Lula criticou Bush por ele não ter dado maior destaque à questão da crise financeira em seu discurso na reunião. ´Lamentei porque imaginei que o presidente, na sua última aparição na sede das Nações Unidas como presidente da República, ia fazer um discurso de despedida e falar um pouco da crise econômica, o que é que o governo americano pretende fazer´, afirmou Lula.

´Mas ele fez a opção por voltar a falar do terrorismo, e eu obviamente, como sou defensor da autodeterminação dos povos e da soberania dos discursos dos presidentes, fui obrigado então a ficar quieto´, acrescentou o presidente, classificando a crise financeira internacional como o assunto mais importante.

DESPEDIDA
Bush elogia ´potencial´ da ONU

New York. Seis anos depois de advertir a Organização das Nações Unidas (ONU) de que corria o risco de se tornar irrelevante, caso não apoiasse a guerra no Iraque, o presidente americano, George W. Bush, elogiou, ontem, o ´extraordinário potencial´ desse organismo mundial.

Em seu discurso de despedida na Assembléia-Geral, Bush, que deixa o cargo em quatro meses, também advertiu que a ´ineficiência e a corrupção (...) a avultada´ burocracia e a hipocrisia sobre os direitos humanos ameaçam o potencial do órgão. ´As Nações Unidas são uma organização de extraordinário potencial. No momento em que as Nações Unidas reconstroem sua sede, também devem abrir as portas para uma nova era de transparência, responsabilidade e propósitos sérios´, acrescentou.

´Com determinação e um propósito claro, as Nações Unidas podem ser uma força poderosa para o bem, quando ingressamos no século XXI. Podem reafirmar a grande promessa sobre a qual foi fundada´, disse Bush, em um discurso de 22 minutos.

Bush enfatizou que as Nações Unidas ´devem permanecer unidas´ contra pragas como o terrorismo, a pobreza e no apoio da democracia e do desenvolvimento. ´As Nações Unidas e outras organizações multilaterais são necessárias com mais urgência do que nunca. Para ter êxito, devemos estar focados e decididos e ser efetivos´, frisou o presidente.

Bush se pronunciou também contra a prática de ´simplesmente aprovar resoluções, condenando ataques terroristas depois que ocorreram´, e convocou a ONU a atuar para detê-los. Criticou que se trate ´todas as formas de governo, como se fossem igualmente toleráveis´.

O presidente não se referiu ao aquecimento global, tema que o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, considera central na missão do organismo. Bush não criticou o Conselho de Direitos Humanos da ONU, como de costume. ´Deve haver uma revisão imediata do Conselho de Direitos Humanos, que protegeu rotineiramente violadores de direitos humanos´, limitou-se a dizer. Bush disse que a ONU deve se ´depurar´. ´Onde houver ineficiência e corrupção, deve-se corrigir´, disse.

DISCURSO DE LULA

Nova geografia: Ao citar os países da América do Sul e Caribe, Lula disse que aos poucos vai sendo descartado o ´velho alinhamento conformista dos países do sul aos centros tradicionais´. ´

Conselho de Segurança: Ao abordar o tema Conselho de Segurança (CS) da ONU, Lula destacou que a ´força dos valores deve prevalecer sobre valor da força´. Ao citar que há 15 anos a ONU discute a reforma do conselho, Lula observou que a estrutura vigente do CS ´responde cada vez menos aos desafios do mundo contemporâneo´.

Orgulho brasileiro: ´O Brasil de hoje é muito distinto daquele de 2003´, disse Lula. ´Tenho orgulho de dizer que o Brasil está vencendo a fome e a pobreza´, acrescentou. Ao encerrar seu discurso, Lula reiterou o ´otimismo´ que disse ter expressado há 5 anos. ´Somos maiores do que as crises´, disse.

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