segunda-feira, 8 de setembro de 2008

PATRIMÔNIO NATURAL: Instalações danificam Pedra do Cruzeiro


Campanha de restauração da Pedra do Cruzeiro, erguido em 1934, deve começar após o período eleitoral

Quixadá. Um dos mais interessantes pontos turísticos do Sertão Central, a Pedra do Cruzeiro, ganha um aliado determinado a assegurar sua preservação. A Associação dos Filhos e Amigos de Quixadá (Afaq) se articula no sentido de identificar os proprietários das dezenas de antenas instaladas no pico da imensa rocha monolítica encravada no Centro da cidade e exigir do Município o cumprimento da lei que estabelece a retirada das parafernálias metálicas daquele local. Com a “limpeza”, pretendem promover campanha para a restauração do cruzeiro erguido nos idos de 1934 que deu o título popular ao exótico monumento geográfico de Quixadá.

A Afaq está preocupada com a acentuada descaracterização daquele patrimônio natural. Além das antenas, temem a continuidade da especulação imobiliária. Enormes prédios estão sendo erguidos no entorno da rocha. “Aos poucos, a Pedra do Cruzeiro está sendo sugada pelas edificações e ambição econômica”, avaliam os associados. Não se conformam com o não cumprimento da lei orgânica municipal, que estabelece um dispositivo legal especial para disciplinar a utilização das antenas. Embora o monólito seja tombado como patrimônio da cidade, nenhum cuidado é tomado.

O presidente da Afaq, Edvardo Moraes de Oliveira, aguarda o levantamento do número exato das antenas e, inclusive, a relação dos que estão se beneficiando economicamente com a irregularidade. Pelo que sabem, alguns recebem aluguel e outros não dão qualquer contribuição ao erário municipal. Com os dados e as leis nas quais são estabelecidas as normas de preservação e utilização do espaço público natural nas mãos, os associados pretendem acionar o Ministério Público. Vão exigir o fiel cumprimento da legislação.

Normas

Acerca das normas que estabelecem os critérios para a instalação de torres e parabólicas na plataforma da rocha, o empresário e vice-prefeito de Quixadá, Cristiano Góes, assegurou a existência do dispositivo legal. Informou ter sido ele o autor da medida. Determina até o prazo para a retirada das antenas. A área deveria ser desocupada há mais de dois anos. Ficou acertada a junção da documentação norma complementar à Lei Orgânica. O artigo 129 estabelece: “A Pedra do Cruzeiro, patrimônio histórico, cultural e turístico do município será preservada de toda e qualquer depredação, vedada à exploração comercial ou residencial em toda a sua estrutura a qualquer título, salvo iniciativa do Poder Executivo através do Projeto de Lei enviado à Câmara Municipal”. No entanto, nunca foi cumprido.

A pedagoga Lúcia Helena Granjeiro, integrante da Afaq, não se conforma com o que considera descaso público a se arrastar por mais de uma década. A professora universitária lembra que antigamente o cruzeiro era um marco norteador para quem se aproximava do Centro de Quixadá. Atualmente parece ter sido consumido pelas dezenas de antenas repetidoras de telefonia e Internet, que continuam sendo instaladas ali.

Pichações, lixo, sexo e consumo de drogas completam o cenário degradante. Mas ainda hoje muitos enfrentam a sinuosa e íngreme trilha, sobem ao topo da gigantesca rocha de 127 metros de altura para apreciar a vista panorâmica da “Terra dos Monólitos”. É justamente com a disposição e sensibilidade desse público que os “Amigos de Quixadá” pretendem contar na elaboração de uma ação popular. Eles acreditam ser a última alternativa para a preservação das características originais do mirante sertanejo, considerado um dos mais belos cartões postais do Sertão Central.

A campanha de preservação da Pedra do Cruzeiro tem início logo após o pleito eleitoral. Os futuros representantes do poder legislativo do município serão convocados a integrarem o exército de protetores da “Pedra do Cruzeiro”.

ALEX PIMENTEL
Colaborador
Diário do Nordeste

ENQUETE
O que você acha da degradação no Cruzeiro?

Edvardo Morares de Oliveira
Presidente da Afaq
Noutras cidades do País, os empresários instalam suas torres metálicas em áreas adequadas.

Cristiano Góes
Autor da lei municipal
Foi um absurdo a autorização de se colocar essas antenas na Pedra do Cruzeiro. Quem o fez não teve sensibilidade.

Terezinha Oliveira
Secretária de Cultura
Ao visitar Quixeramobim, era a visão do Cruzeiro que me dava a sensação da volta pro meu aconchego

FIQUE POR DENTRO
Cruzeiro de Santo Antônio em abandono

Em outra elevação geográfica natural da região, a situação é praticamente a mesma. O cruzeiro e a capelinha erguidos há mais de meio século no serrote do Boqueirão, ao lado da barragem do açude Quixeramobim, também estão abandonados. O pequeno templo e o marco religioso foram depredados por vândalos. Nem mesmo as cruzes fixadas ao longo da trilha de meio quilômetro escaparam. Apenas a bandeira de Santo Antônio está a salvo. ´SOS Cruzeiro do Boqueirão´ será elaborada na cidade.

Mais informações:
Associação dos Filhos e Amigos de Quixadá - Afaq
Rua São Paulo, 32 Sl. 911
Fortaleza - CE
(85) 3254.7168

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