Os números são assustadores, porém, revelam a cruel realidade do avanço da criminalidade em Fortaleza e os municípios que compõem a sua Região Metropolitana. Em seis meses de 2009, nada menos, que 630 pessoas foram assassinadas. São 630 homicídios no primeiro semestre deste ano contra 498 no mesmo período de 2008, representando uma elevação de 26,5 por cento.
Este é o retrato do que acontece nas ruas, avenidas, becos e favelas da quinta maior capital brasileira, onde um dos maiores incrementos da violência é o avanço das drogas, especialmente do crack.
O levantamento estatístico dos casos de homicídios é resultante de pesquisa própria da editoria de Polícia do Diário do Nordeste, através do acompanhamento diário das ocorrências de assassinatos na Grande Fortaleza. Os números são extraídos dos registros da Coordenadoria de Medicina Legal da Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce), antigo IML; além das guias cadavéricas expedidas pelas delegacias de Polícia Civil, e do relatório de ocorrências apresentadas na página da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), na internet.
Dos 630 homicídios ocorridos na Grande Fortaleza nos seis primeiros meses deste ano, 504 foram praticados com armas de fogo, cerca de 80 por cento do total. Os outros 20 por cento restantes são de homicídios consumados com o uso de armas brancas (facas, punhais, pau, facão etc) ou por outros meios como espancamento, estrangulamento, fogo (carbonizados), esganadura.
Este viés da pesquisa é a constatação de que, mesmo com o intenso trabalho de abordagens feitos pelas patrulhas da Polícia Militar nas ruas da Capital - com destaque para o grupo Raio (Rondas de Ações Intensivas e Ostensivas) - as armas de fogo ainda são as grandes responsáveis pelos óbitos de causa violenta na Grande Fortaleza.
O levantamento estatístico feito pelo Diário apontou também outra faceta da criminalidade nesta Capital e municípios metropolitanos. Em seis meses, nada menos que 78 adolescentes foram mortos nas ruas da cidade. Todos foram executados a tiro.
Bairros
Na maioria absoluta dos casos, o crime teve como motivo a cobrança de dívidas não quitadas por usuários de drogas junto aos traficantes, o chamado ´acerto de conta´. Nos bairros mais distantes do núcleo central da Capital, os mercadores de drogas impõem regime de medo, violência e silêncio. ´Quem compra droga e não paga, morre´, é a ordem que prevalece nos redutos do tráfico.
A estatística revela também as áreas da Grande Fortaleza onde estão concentrados os maiores índices dos casos de assassinatos. Os bairros mais violentos de Fortaleza já são conhecidos das autoridades policiais e neles são realizadas constantes operações de desarmamento e busca por drogas e foragidos da Justiça. Mesmo assim, a violência predomina nestes bolsões da periferia.
Disparadamente, a Grande Messejana é a campeã no ranking da violência urbana. A área concentra bairros e favelas onde os assassinatos acontecem diariamente.
A estatística apontou o registro de 78 homicídios na Grande Messejana, com destaque para 18 casos no Conjunto Palmeiras, 15 no Conjunto São Miguel, 10 no Jangurussu e outros cinco no Conjunto São Cristóvão. Outros 30 assassinatos aconteceram nas demais comunidades inseridas naquele setor da cidade, como Lagoa Redonda, Guajiru, Pedras, Parque Itamarati, Parque Santa Filomena, Parque Santa Maria, Barroso I e Barroso II.
Bairros
Outro ´campeão´ na lista dos bairros mais violentos de Fortaleza é, sem dúvidas, o Bom Jardim. Este ano, já foram registrados 26 assassinatos ali. Além dos crimes motivados por ´acerto de conta´ entre traficantes e viciados, um fato tem causado tantas mortes naquela comunidade. É a disputa de território entre seguranças clandestinos, vigias de rua que transitam em motos e usam ilegalmente armas de fogo.
A briga por espaço numa área onde a Segurança Pública não consegue conter a marginalidade, abriu uma disputa sangrenta. Para complicar o quadro, a delegacia do bairro (32º DP), não tem meios suficientes. Mais de 500 inquéritos se acumulam na distrital.
Outros bairros violentos da Capital são, Planalto Ayrton Senna (Pantanal), Rosalina, Tancredo Neves, Genibaú, Praia do Futuro, e o distrito da Pajuçara (em Maracanaú).
EXECUÇÕES MISTERIOSAS
Divisão de Homicídios vai combater crime
A nova unidade da Polícia Civil entrará em ação em 2010 para investigar assassinatos de autoria desconhecida
A maioria dos homicídios ocorridos na periferia de Fortaleza tem como causa o tráfico intenso de drogas. Disso as autoridades têm ciência. Porém, o que mais incomoda a sociedade é a impunidade de que gozam os criminosos. O medo das testemunhas em sofrer represálias e o desaparelhamento da Polícia Civil que a impede o esclarecimento dos casos, tornaram-se o trunfo que os assassinos têm para continuar agindo livremente na Capital.
“O governador não está insensível a este problema, daí já ter sido iniciada a construção da Divisão de Homicídios. A ela caberá investigar os assassinatos de autoria desconhecidas e, eventualmente, aqueles que causarem maior repercussão e comoção na sociedade”, afirma o secretário-adjunto da Segurança Pública do Estado, delegado José Nival Freire da Silva. Segundo ele, a Divisão vai contar com quatro delegacias e um corpo formado por delegados, escrivães e inspetores cujo número não foi ainda definido.
A Divisão de Homicídios deverá suprir, de acordo com Freire, a demanda das investigações que, atualmente, estão emperradas nas delegacias distritais e metropolitanas. A falta de policiais para apurar os assassinatos é um dos componentes da situação de impunidade dos homicidas.
Nos bairros que apresentam maiores índices de criminalidade também estão concentradas as quadrilhas responsáveis pela distribuição das drogas na Grande Fortaleza.
Na comunidade do São Miguel, em Messejana, os assassinatos estão ligados diretamente ao embate entre os grandes traficantes. Em outros bairros, a disputa de gangues motivam os homicídios. É o que acontece, por exemplo, no Edson Queiroz, Vicente Pinzón e no Serviluz, bairros da Zona Leste da Capital.
Execuções
Na Praia do Futuro, por exemplo, dez pessoas foram assassinadas nos seis primeiros meses de 2009, mesmo número de homicídios ocorridos no Jangurussu. No Conjunto Palmeiras foram 18 pessoas executadas e 13 no distrito da Pajuçara, Maracanaú.
No bairro do Pirambu, quatro homicídios ocorreram no primeiro semestre. No Lagamar e no Genibaú foram três casos em cada um deles, segundo apontou a estatística.
Já noutros municípios da Região Metropolitana de Fortaleza, a violência também segue avançando. Maracanaú e Caucaia são aqueles que mais concentram índices de assassinatos. Em Maracanaú já foram 45 pessoas executadas, a maioria nas comunidades da Pajuçara e Conjunto Jereissati. Em Caucaia, foram 42 homicídios, parte deles em distritos considerados violentos, como a Jurema.
Já em Pacajus, já são 15 homicídios. Ali, a maioria dos crimes de morte está relacionada com vingança. Porém, há diversos casos sob mistério.
Com base no mapeamento da violência, a Polícia Militar, através do seu Comando do Policiamento da Capital (CPC), tem realizando operações de ocupação e blitz nos fins de semana. A diretriz traçada pelo comandante do CPC, coronel PM Jarbas Araújo, mobiliza além das unidades operacionais (companhias) do 5º e 6º batalhões, as chamadas forças especiais, como o Batalhão de Polícia de Choque (BpChoque), grupo Ronda de Ações Intensivas e Ostensivas (Raio), Canil e a Cavalaria, com o apoio de três helicópteros da Coordenadoria Integrada de Operações Aéreas (Ciopaer).
O mapeamento das áreas de maior incidência criminal é feito com base no volume de ocorrências registradas pela Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (Ciops) e pelo Serviço de Inteligência.
FIQUE POR DENTRO
Estatística aponta os bairros mais violentos
A estatística elaborada pelo Diário do Nordeste acerca dos casos de homicídio em Fortaleza e sua Região Metropolitana apontou como mais violentos os seguintes bairros: Messejana, Bom Jardim, Conjunto Palmeiras, São Miguel, Pajuçara (em Maracanaú), Jangurussu, Praia do Futuro, Planalto Ayrton Senna (antigo Pantanal), Conjunto Rosalina, Serviluz, Conjunto São Cristóvão, Conjunto Tancredo Neves, Genibaú, Pirambu, Barra do Ceará, Vila Velha, Vicente Pinzón, Mucuripe, Quintino Cunha, Jardim Iracema, Lagamar e Edson Queiroz. São bairros com constantes casos de assassinato
Fernando Ribeiro
Editor
ENTREVISTA
Aumento do efetivo e novas delegacias vão resgatar o papel da Polícia Civil
JOSÉ NIVAL FREIRE
Secretário-adjunto da Segurança
Quando será implantada a Divisão de Homicídios?
A ordem de serviço para a construção da sede já foi assinada pelo governador (Cid Gomes). Ela funcionará em 2010. A sede será na Avenida Aguanambi. Lá existirão quatro delegacias voltadas, especificamente para investigar os crimes de autoria desconhecida e aqueles de maior repercussão. Teremos uma equipe formada por delegados, inspetores e escrivães que trabalharão num órgão moderno e funcional.
Como o Sr. observa o atual quadro da Polícia Civil em relação à sua função de investigar crimes?
Nos últimos anos enfrentamos vários problemas, como a falta de efetivo e, principalmente, o acúmulo de presos nas delegacias. Mas estes dois problemas estão sendo sanados nos próximos dias, com a transferência dos presos para a nova CPPL (Casa de Privação Provisória da Liberdade) e a chegada de novos delegados escrivães para as delegacias da Capital e do Interior do Estado.
A impunidade dos criminosos causa revolta nas famílias das vítimas dos homicídios. Como impedir que esta impunidade continue no Ceará?
Realmente, a sensação de impunidade é algo que atinge diretamente as famílias dos mortos. Para isso, o governo do Estado está implantando a Divisão de Homicídios, órgão que vai trabalhar, efetivamente, para elucidar os crimes sem autoria definida, instaurar os inquéritos policiais e fornecer à Justiça elementos para que os acusados sejam julgados e punidos por seus crimes.
A Divisão funcionará na Capital e como fica o Interior, onde há muitas deficiências na Segurança Pública?
Ainda este mês os novos escrivães (223) e delegados (82) deverão tomar posse em seus cargos e serão nomeados. Parte deles vai ser destacada para o Interior do Estado, nas delegacias regionais e municipais. Vinte delegacias estão sendo construídas e ficarão prontas brevemente. Em seguida, outras 15 entram em processo de licitação de obras. Assim, este ano, teremos 35 delegacias novas no Interior. Outras 15 serão construídas em 2010, fechando, assim, a meta estabelecida pelo governo de 50 novas delegacias, dentro do plano de reinteriorização da Polícia Civil.
A Polícia Judiciária voltará, então, ao seu papel primordial que é o de apurar crime?
Exatamente. E um dos principais problemas era a presença de presos nas delegacias. Isso fazia com que os inspetores se desviassem de suas funções, deixando de ir às ruas investigar para ficar trabalhando na custódia de presos, fato que também gerava fugas e outros problemas dentro das delegacias da Grande Fortaleza.
Informação extraída do site do Diário do Nordeste
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