sábado, 24 de janeiro de 2009

MODELO CIENTÍFICO: Estatístico avalia estudo dos profetas das chuvas


Quixadá. Com os novos estudos feitos pelo professor PhD em Estatística, Ailton Andrade, a abordagem quantitativa dos conhecimentos dos profetas da chuva se torna científica. Usando o enfoque Bayesiano é possível converter as informações subjetivas obtidas por meio da observação da natureza em uma ferramenta objetiva (matemática) para uso em modelos estatísticos.

De acordo com o especialista, não se trata de forma alguma de um procedimento concorrente com aqueles adotados pelos institutos, os dois podem trabalhar juntos, fundindo informações e melhorando as previsões. A concorrência surge quando se percebe um preconceito por parte dos meteorologistas em relação às informações dos profetas. “É importante perceber que os dois grupos, profetas e meteorologistas, estudam fontes de informações diferentes, e as duas podem e devem ser combinadas”, destaca o professor.

Juntamente com o Dr. John-Paul Gosling, da Universidade de Sheffield (Reino Unido), o professor Ailton Andrade desenvolve projeto com modelos estatísticos de elicitação ou exploração de conhecimento.

A priori, indicam a boa perspectiva de inverno para a agricultura. Levando-se em consideração todos os profetas, chegaram à conclusão de que as chuvas irão demorar a chegar na região do Sertão Central. Usam essas técnicas especiais para refinar as previsões dos profetas da chuva.

Questionário

Segundo o especialista, as técnicas consistem em elaborar um questionário de elicitação onde perguntas são feitas de tal forma que o entrevistado seja levado a expressar seu conhecimento sobre o evento. No caso dos profetas, o evento em estudo foi “bom inverno”. Assim construíram um questionário visando extrair, de cada um deles, a probabilidade de haver “bom inverno”.

A definição de bom inverno aqui segue a idéia da massiva maioria dos profetas: “Bom inverno é quando a terra se mantém molhada durante todo o período”. Segundo o especialista, essa definição é voltada para a agricultura, o que não é uma surpresa, pois a maioria deles é agricultor.

O que é curioso é que, para um agricultor, ter bom inverno os reservatórios (açudes, barragens etc) não precisam necessariamente tomar muita água. Terra molhada constante parece ser suficiente para todos tirarem uma boa safra.

O questionário foi cuidadosamente delineado a diminuir vieses inerentes a todos os entrevistados, tais como falta de noção sobre incerteza, super-confiança, pessimismo, vaidade etc. Por exemplo, perguntando-se sobre a chance de bom inverno, a maioria deles não conseguiria expressar em percentual, então, uma série de perguntas foi feita sem usar nenhum conceito matemático.

Probabilidade

A concepção comum de quase todos os profetas facilitou muito o trabalho. Assim, em vez de perguntar qual a probabilidade (ou a chance) de bom inverno, foi perguntado se o chão ia manter-se molhado de janeiro a junho.

O professor esclarece que o uso de intervalos de probabilidade diminui o erro que pode cometer ao tentar extrair a previsão do profeta. Assim, baseando-se em tudo que o entrevistado disse e todo cenário descrito por ele, escolhe o intervalo que melhor representa sua opinião.

A aplicação de cada questionário foi feita de forma privada e alguns demoraram uma hora para responder. A razão para tanta demora foi devido à dificuldade de se extrair a probabilidade que melhor representasse suas opiniões.

ALEX PIMENTEL
Colaborador

ENTREVISTA - AILTON ANDRADE*
´Entrevistas foram fonte rica de pesquisa em muitas áreas do conhecimento´

Até que ponto dados estatísticos são úteis na definição de prognósticos?

Toda tese, teoria e hipótese, só pode ser comprovada (ou refutada) por Estatística. Onde quer que haja incerteza, a Estatística é a forma apropriada de se tratar o problema. No caso dos profetas, há um grande nível de incerteza devido aos problemas de linguagem e interpretação, podemos organizar melhor as informações dos mesmos, e reduzir muito a incerteza. É possível criar um indicador mais objetivo do prognóstico, para visualizar a previsão.

O senhor acredita nas previsões dos profetas?

É uma pergunta complexa. Eu, como cientista, procuro explicações pra tudo na ciência, claro que algumas coisas escapam. Se eles estão certos, somente um acompanhamento a longo prazo com ferramentas mais objetivas pode confirmar. Tenho que ser frio neste ponto, apesar de que, em minha opinião, há indícios fortes de que eles conseguem fazer previsões com antecedência de quatro a seis meses. Isso, porque os animais na natureza podem ter desenvolvido uma sensibilidade maior à vinda (ou não) do inverno.

O que lhe atraiu a realizar esses estudos?

Os profetas fazem o papel do especialista, eles são os interlocutores entre a natureza e a população local. É aí que entra a elicitação de conhecimento a priori, um conjunto de técnicas estatísticas (e alguns elementos de psicologia humana) que visam extrair o conhecimento do especialista sobre o objeto em estudo.

Como os profetas reagiram às entrevistas?

É impressionante a inteligência e o conhecimento que essas pessoas simples têm, vi ali uma fonte rica de pesquisa em muitas áreas do conhecimento. Os profetas são seguros, algo dá essa segurança a eles, não tive problemas em entrevistá-los, foi bom desfrutar um pouco de suas visões.

Quais as perguntas mais importantes dos estudos?

As perguntas chaves visam associar o que eles dizem sobre o inverno a uma medida de probabilidade, além disso foi preciso que eles avaliassem a incerteza de seus prognósticos. Por isso foi necessário uma longa conversa até que eu pudesse me decidir sobre qual probabilidade eles tinham em mente e a incerteza associada.

*Professor e PhD em Estatística

SAIBA MAIS

Surgimento
Segundo historiadores, o termo ´estatística´ surgiu no século XVIII, mas não há unanimidade na data de seu aparecimento. Há quem diga que o professor alemão Godofredo Achenwall (1719-1772) foi seu autor, utilizando pela primeira vez o termo ´statistik´, do grego statizein (verificar). Outros apontam que sua procedência vem da palavra ´estado´, do latim ´status´, pelo aproveitamento que dela tiravam os políticos e o Estado

Uso
Muito antes dessa expressão começar a ser utilizada, os romanos usavam seus métodos no recenseamento de sua população. Um desses levantamentos é citado na Bíblia. Ainda nas civilizações antigas, eram feitos inquéritos sobre os quantitativos de trigo e outros produtos. Os impostos eram estabelecidos com base nesses dados

Contagem
Os pesquisadores apontam que até o início do século XVII, a Estatística servia apenas para assuntos de Estado e limitava-se a uma simples técnica de contagem, traduzindo numericamente fatos ou fenômenos observados. Era a fase da Estatística Descritiva. Na época iniciou-se, na Inglaterra, um novo período de desenvolvimento desses estudos, virado para a análise dessas observações. Surgia a Estatística Analítica. O cientista inglês John Graunt (1620-1674) foi quem publicou pela primeira vez um trabalho de Estatística

Fonte: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=609220

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