Distrito educacional em Quixadá estimula a preservação dos costumes populares homenageando São João
Quixadá. As chamas da cultura popular sertaneja estão se apagando no Sertão Central. Bem diferente da preservação dos festejos juninos no Cariri, professores do Distrito Educacional Campo Velho, em Quixadá, lutam pela manutenção da legítima identidade dos folguedos em homenagem a São João. Ver uma fogueira acesa no dia que lhe é dedicado, 24 de junho, está se tornado cada vez mais raro na região Centro do Estado. Por esse motivo o bê-a-bá do ciclo da festança junina está sendo ensinado dentro e fora das salas de aula.
Alguns atribuem a inibição do costume de acender fogueiras às queimadas. São tantas ao longo do ano que não carece botar lenha no fogo para anunciar o nascimento de São João. Entretanto, o diretor do Distrito Educacional, pedagogo João Batista de Sousa, atribui o desaparecimento ao desinteresse e ao esquecimento da tradição. As bandas de forró estão se tornando a principal atração. Por esse motivo, no início de junho os festejos da época são abordados dentro das salas de aula nas sete escolas que integram o núcleo de ensino.
Preocupado em manter as características originais da brincadeira trazida pelos colonizadores, adaptada aos costumes nordestinos, que ao longo dos últimos anos está se transformando unicamente em espetáculo para atrair turista, ele resolveu estimular sua equipe a resgatar junto aos alunos a verdadeira identidade cultural do costume popular festeiro. Chitões, quermesses e simpatias em torno da fogueira, por menor que ela seja, é uma boa maneira de assegurar a tradição, garante o educador.
Ele e os colegas acreditam que apesar do interesse maior pelos vídeos-games e orkuts, desde que sejam incentivados, os jovens não resistem em participar dos arraiás. Se transformar em matuto de verdade, caipira de alma, com chapéu de palha e calça remendada, mesmo que seja por alguns instantes, se tornando um desafio. “Alguns vão um pouco mais além. Levam a sério a simpatia da faca virgem na bananeira. Dentro de dois ou três dias a letra inicial do nome do futuro marido ou da futura esposa aparece no tronco. Coisas assim resistem”, lembra ele.
Apesar da urbanização da cidade ter avançado a longos passos, somente na última década, muitos são recentemente chegados da zona rural, onde os costumes têm resistido ao tempo. Mas rapidamente esquecem suas origens ou não resistem ao apelo da maioria da população. A mídia e o consumismo forçam a mudança. É difícil resistir ao constante apelo. O chitão perde espaço para malhas, camisetas e shorts. Sanduíches, pizzas, cervejas estão mudando o sabor da festa.
Sobre as festividades brasileiras, uma das mais conceituadas especialistas no assunto, a antropóloga Rita Amaral confirma a realidade constatada em Quixadá. Conclui que as brincadeiras originais ou parte delas são transformadas em espetáculos, shows para atrair turistas, tornando-as apenas um objeto de consumo, perdendo assim sua originalidade. Contudo, do seu ponto de vista, a população não deixa de manter o controle e participar criativamente da festa.
Estudo
A tese foi apresentada em 1998, em seu Doutorado em Antropologia Social. Sobre a atualização dos estudos, por e-mail respondeu: “Penso que o processo de transformação se intensificou: o setor turístico tem avançado com gana. As tradições precisam de dinamismo, mas não de amputações, maquiagem ou travestimos. De todo modo, não refiz minha pesquisa pra saber até que ponto os rumos do desenvolvimento das festas têm sido discutidos, atualmente, com quem de fato as faz. No geral, as festas continuam produzindo sentido e riquezas”.
Essa foi exatamente a perspectiva trabalhada pelo grupo junino Fiapo de Trapo, de Cascavel. Participaram recentemente do Pula Fogueira, em Quixadá. Fizeram uma exibição digna das melhores companhias de teatro do País. “O nosso principal propósito foi resgatar o chitão, esquecido no figurino sertanejo”, disse o produtor cultural Markus Petronilius, coordenador da quadrilha.
Há oito anos os moradores da Baviera, um dos mais antigos bairros de Quixadá, faz festejos aos moldes herdados de geração em geração. Nada é esquecido pelas mais de 50 famílias mobilizadas pelo casal Francisco Alves Leite e Suely da Silva Leite. Ela disse que dá trabalho, mas o cansaço é superado por saber que os mais jovens estão entrando na dança.
Mais informações:
Distrito Educacional Campo Velho
(88) 3414.4658/ 3412 4053
Alex Pimentel
Colaborador
Diário do Nordeste
Quixadá. As chamas da cultura popular sertaneja estão se apagando no Sertão Central. Bem diferente da preservação dos festejos juninos no Cariri, professores do Distrito Educacional Campo Velho, em Quixadá, lutam pela manutenção da legítima identidade dos folguedos em homenagem a São João. Ver uma fogueira acesa no dia que lhe é dedicado, 24 de junho, está se tornado cada vez mais raro na região Centro do Estado. Por esse motivo o bê-a-bá do ciclo da festança junina está sendo ensinado dentro e fora das salas de aula.
Alguns atribuem a inibição do costume de acender fogueiras às queimadas. São tantas ao longo do ano que não carece botar lenha no fogo para anunciar o nascimento de São João. Entretanto, o diretor do Distrito Educacional, pedagogo João Batista de Sousa, atribui o desaparecimento ao desinteresse e ao esquecimento da tradição. As bandas de forró estão se tornando a principal atração. Por esse motivo, no início de junho os festejos da época são abordados dentro das salas de aula nas sete escolas que integram o núcleo de ensino.
Preocupado em manter as características originais da brincadeira trazida pelos colonizadores, adaptada aos costumes nordestinos, que ao longo dos últimos anos está se transformando unicamente em espetáculo para atrair turista, ele resolveu estimular sua equipe a resgatar junto aos alunos a verdadeira identidade cultural do costume popular festeiro. Chitões, quermesses e simpatias em torno da fogueira, por menor que ela seja, é uma boa maneira de assegurar a tradição, garante o educador.
Ele e os colegas acreditam que apesar do interesse maior pelos vídeos-games e orkuts, desde que sejam incentivados, os jovens não resistem em participar dos arraiás. Se transformar em matuto de verdade, caipira de alma, com chapéu de palha e calça remendada, mesmo que seja por alguns instantes, se tornando um desafio. “Alguns vão um pouco mais além. Levam a sério a simpatia da faca virgem na bananeira. Dentro de dois ou três dias a letra inicial do nome do futuro marido ou da futura esposa aparece no tronco. Coisas assim resistem”, lembra ele.
Apesar da urbanização da cidade ter avançado a longos passos, somente na última década, muitos são recentemente chegados da zona rural, onde os costumes têm resistido ao tempo. Mas rapidamente esquecem suas origens ou não resistem ao apelo da maioria da população. A mídia e o consumismo forçam a mudança. É difícil resistir ao constante apelo. O chitão perde espaço para malhas, camisetas e shorts. Sanduíches, pizzas, cervejas estão mudando o sabor da festa.
Sobre as festividades brasileiras, uma das mais conceituadas especialistas no assunto, a antropóloga Rita Amaral confirma a realidade constatada em Quixadá. Conclui que as brincadeiras originais ou parte delas são transformadas em espetáculos, shows para atrair turistas, tornando-as apenas um objeto de consumo, perdendo assim sua originalidade. Contudo, do seu ponto de vista, a população não deixa de manter o controle e participar criativamente da festa.
Estudo
A tese foi apresentada em 1998, em seu Doutorado em Antropologia Social. Sobre a atualização dos estudos, por e-mail respondeu: “Penso que o processo de transformação se intensificou: o setor turístico tem avançado com gana. As tradições precisam de dinamismo, mas não de amputações, maquiagem ou travestimos. De todo modo, não refiz minha pesquisa pra saber até que ponto os rumos do desenvolvimento das festas têm sido discutidos, atualmente, com quem de fato as faz. No geral, as festas continuam produzindo sentido e riquezas”.
Essa foi exatamente a perspectiva trabalhada pelo grupo junino Fiapo de Trapo, de Cascavel. Participaram recentemente do Pula Fogueira, em Quixadá. Fizeram uma exibição digna das melhores companhias de teatro do País. “O nosso principal propósito foi resgatar o chitão, esquecido no figurino sertanejo”, disse o produtor cultural Markus Petronilius, coordenador da quadrilha.
Há oito anos os moradores da Baviera, um dos mais antigos bairros de Quixadá, faz festejos aos moldes herdados de geração em geração. Nada é esquecido pelas mais de 50 famílias mobilizadas pelo casal Francisco Alves Leite e Suely da Silva Leite. Ela disse que dá trabalho, mas o cansaço é superado por saber que os mais jovens estão entrando na dança.
Mais informações:
Distrito Educacional Campo Velho
(88) 3414.4658/ 3412 4053
Alex Pimentel
Colaborador
Diário do Nordeste
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