segunda-feira, 8 de junho de 2009

Núcleo aposta em novo modelo de proteção social

Mapeamento social e capacitação de agentes multiplicadores são utilizados para prevenir a violência urbana

Quixadá. A violência analisada como uma doença social. Enquanto especialistas se perguntam como solucionar o problema e as marchas pelas ruas exigem uma cura imediata, um grupo formado por três estudantes e uma psicopedagoga apostam no levantamento dos índices registrados nos órgãos públicos e na formação de uma rede de proteção à família como solução.

Para combater qualquer enfermidade com eficácia, é preciso diagnosticar as causas. Esse trabalho está sendo realizado através do Núcleo de Prevenção das Violências e Promoção da Saúde e Cultura de Paz (Nuprev), um programa do Ministério da Saúde implantado recentemente em Quixadá. A psicopedagoga Juliana Fernandes e os estudantes Amanda Teles, Keven Queiroz e Pedro Azevedo são os responsáveis pelo funcionamento do órgão, subordinado à Secretaria de Saúde do município.

A expectativa da turma, egressa de programas sociais implantados na cidade, é desenvolver soluções através dos dados colhidos nas esferas da educação, da saúde e da segurança pública. O levantamento funciona como uma poderosa ferramenta na implantação de políticas públicas de prevenção e combate ao agravo social no município. A embriaguez, o consumo de drogas ilícitas e os acidentes de trânsito, apontados pela Polícia como casos de maior incidência, são os primeiros da lista.

Os levantamentos estatísticos estão sendo utilizados na formação dos Grupos Nuprev de Trabalho (GNT). Segundo a coordenadora do Núcleo, Juliana Fernandes, os GNTs são divididos na atenção especial às crianças, aos jovens, às mulheres e aos idosos. A idéia é reduzir os percentuais de violência através da prevenção e da promoção da cultura de paz com o apoio dos multiplicadores, numa imensa rede intersetorial. As secretarias de Educação, de Participação Popular e de Esporte e Juventude de Quixadá estão entre os parceiros.

Caberá ao grupo juvenil o convencimento de outros adolescentes sobre a necessidade de respeitar as regras sociais e os cuidados pessoais. O grupo busca discutir os problemas que afetam cada público-alvo e incutir valores como respeito, solidariedade e cooperação.

Na opinião de Keven Queiroz, um dos articuladores do projeto, não é à toa o número cada vez maior de casos de violência. Os dados foram constatados nas portas das delegacias. Os registros são os mesmos em relação às mulheres vítimas de violência. Na maioria dos casos, o perfil dos companheiros também está relacionado ao vício. “A solução não está dentro das cadeias ou na prematura perda da vida. É preciso despertar”, ressalta.

A coordenadora do Nuprev avalia a violência como um problema de saúde púbica. Para combatê-lo, deve haver uma ação que envolva todo o poder público e a população. Outros jovens estão sendo selecionados para compor os grupos especiais. “O Nuprev está em plena atividade, estamos formando grupos sólidos que vão contribuir para que os índices de violência diminuam em nossa cidade”, afirma.

Mobilização

Na última sexta-feira, a Comissão Interparoquial de Justiça e Paz, ligada à Igreja católica, promoveu uma caminhada pelas ruas do Centro de Quixadá. Batalhões de estudantes de diversas escolas lotaram a Praça José de Barros, local que, muitas vezes, se transforma em campo de guerra por conta das festas populares. Crianças e adolescentes estavam ali, empunhando faixas, cartazes e bandeirinhas. Tiveram a oportunidade de ouvir relatos emocionados de familiares de vítimas da violência, como a dona-de-casa Edileusa de Castro, que pediu justiça pela morte do irmão.

ALERTA
Índices de violência crescem no CE

De acordo com especialistas, na última década a sociedade brasileira entrou no grupo das mais violentas do mundo. Hoje, o País tem altíssimos índices de violência urbana. No Ceará, os casos de agressão contra as mulheres se multiplicam. Foram mais de três mil ocorrências registradas nos quatro primeiros meses do ano. Contra crianças e adolescentes, a situação não é diferente. A violência cresceu cerca de 60% nos dois últimos anos, de acordo com o Ministério Público Estadual (MPE). Os idosos sofrem muito mais. Segundo o MPE, em 2008, houve acréscimo de 800% em denúncias. Na maioria dos casos, são agressões físicas e psicológicas, que ocorrem dentro do ambiente doméstico.

Assim como no restante do Estado, Quixadá não é exceção. Mas foi a primeira cidade da região a se mobilizar. O vigário José Maria Loyola, coordenador da Comissão Interparoquial de Justiça e Paz, espera que o movimento se fortaleça e, com ele, a rede de proteção às famílias. Para mudar essa cruel realidade, é preciso seguir o exemplo de Elvira Ferreira de Lima. Na caminhada promovida na última sexta-feira, a aposentada de 104 anos demonstrou muita disposição ao subir os degraus do palanque armado na Praça José de Barros para protestar contra a violência. Com 94 anos a menos, Tainara Marinho, com a palavra “Paz” pintada na testa, sonhava com um mundo melhor.

Mais informações:
Núcleo de Prevenção das Violências e Promoção da Saúde e Cultura de Paz (Nuprev) (88) 3414.4649 E-mail: nuprev@hotmail.com

ALEX PIMENTEL
Colaborador

ENQUETE
Qual a solução para a violência na sua cidade?

Juliana Fernandes
25 ANOS
Psicopedagoga

Viver harmoniosamente é respeitar as regras de convívio. Muitas pessoas as esquecem ou as desprezam

Pedro Azevedo
18 ANOS
Gerente do GNT

A impunidade e a falta de consciência são os principais fatores da violência. Ninguém é obrigado a roubar e a matar

Ana Tácia Moraes
15 ANOS
Estudante

Os jovens estão conquistando cada vez mais cedo a sua independência. Mas é preciso que entendam que tudo tem limite

Otávio Santos do Nascimento
13 ANOS
Estudante

É preciso respeitar os direitos dos outros para que eu possa exigir os meus. Aprendi isso com meus pais

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