segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Assentamentos definem regras de convivência


Vida tranqüila na macrorregião Central do Ceará apenas nos assentamentos controlados pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Porteiras fechadas e critérios de convivência são os fatores primordiais para a sobrevivência harmônica das famílias beneficiadas com o programa federal de reforma agrária. Com a aprovação de regimentos internos, se transformam em imensos condomínios rurais onde a ordem prevalece como elemento básico para uma relação social saudável e sem violência.

O modelo de convívio em grupo proíbe a comercialização de bebidas alcoólicas nas fazendas desapropriadas pelo Incra onde muitos trabalhadores rurais passam a morar. Criações de animais somente em cercados. As moradias são construídas a uma distância média de 50 metros umas das outras. Segundo o representante do instituto federal, técnico agrícola Francisco de Assis Bezerra, as regras auxiliam no relacionamento entre vizinhos.

Além das medidas estabelecidas pelo Incra, as próprias comunidades criam seus regimentos internos. A realização de festas é um exemplo. Em alguns assentamentos, os moradores definem o horário e até detalhes relativos à segurança e à limpeza do local depois da farra. Por conta dessas iniciativas, praticamente não existe violência nas 36 propriedades comunitárias espalhadas pelos municípios de Quixadá, Quixeramobim, Banabuiú, Boa Viagem, Choró e Ibaretama.

O técnico do Incra explica que divide com o colega de equipe, o engenheiro agrônomo Romeu Ferreira Leal, a responsabilidade de orientar e fiscalizar as áreas habitacionais criadas pelo Governo Federal para a acomodação dos agricultores. Ele cita o exemplo do Assentamento Palmares. Há algum tempo, o filho de uma moradora montou um bar naquela propriedade situada a 12km do Centro de Quixadá. Pouco tempo depois, o bar foi fechado.

Quem mora no local apóia a proibição. A agricultora Elsa Queiroz Avelino reconhece que se o vício urbano se estabelecesse por ali não seria tão agradável se divertir no terreiro de sua casa com o neto Paulo Henrique e a sua bezerrinha rejeitada, a Mimosa. Problema mesmo só com um misterioso ladrão de galinhas que surgiu recentemente naquelas imediações. Mas a assentada acredita que é coisa de algum vizinho esfomeado, com vergonha de pedir emprestado.

O reflexo dessa mudança brusca de convívio é percebido por José Fernandes Pinto. Até pouco tempo atrás, o aposentado de 75 anos morava no Mondubim, em Fortaleza. Não suportava mais o barulho e a agitação na porta de casa. Nas esquinas, só ouvia falar de assaltos e mortes. Resolveu procurar sossego. Encontrou aconchego ideal no Assentamento Olivença. Passou a morar com o genro. Hoje, tem o prazer de prosear na varanda onde os netos deixam suas bicicletas sem medo de serem levadas.

Conforme Fernandes, o contraste do estilo de vida saudável pode ser visto há poucos quilômetros dali, onde o perímetro urbano de Quixadá se inicia e a agitação da cidade que já enfrenta os problemas das grandes metrópoles.

ALEX PIMENTEL
Colaborador

CARIRI
Entidades previnem violência em Campo Alegre

Distrito do Crato tem duas entidades empenhadas em trabalhar em prol da segurança dos moradores

Crato. Em meio à onda de violência, assaltos, homicídios e tráfico de drogas, ainda existem ilhas de paz e tranqüilidade espalhadas pelo País. Sentado numa cadeira de balanço no terreiro de sua casa, no distrito de Campo Alegre, o agricultor Márcio Belarmino assiste ao pôr-do-sol que se esconde por trás da serra do Araripe, se despedindo do dia.

Márcio é presidente do Conselho Comunitário de Defesa Social e da Associação Comunitária de Campo Alegre, duas entidades preocupadas com a segurança e o bem-estar da comunidade. A quietude do ambiente se confunde com a fala mansa e serena dos moradores que dormem de janelas abertas, acariciados pelos ventos que sopram do sopé da serra do Araripe. O clima de paz e tranqüilidade vivido pelos cerca de 600 moradores do distrito é debitada na conta do Padre Cícero, que tem suas raízes familiares naquela localidade, na união da comunidade e, sobretudo, no sentimento religioso mantido pelo povo.

Faz mais de 20 anos que ocorreu um homicídio no distrito. “O povo nem se lembra mais desse crime”, diz, Márcio, recordando que não se tem notícia de roubos e assaltos na localidade que é reconhecida pela polícia como uma das mais tranqüilas do município do Crato. O comandante da 5ª Companhia da Polícia Militar, major Santos, diz que raramente recebe um chamado de Campo Alegre. O major destaca que os casos de violência ocorrem geralmente no fim de semana, em bares onde são vendidas drogas e bebidas alcoólicas. Em Campo Alegre, não funciona nenhum bar. A venda de bebidas é feita em casas residenciais, sob controle da família.

“Aqui todas se conhecem, é praticamente uma só família”, diz o agricultor Dalmir Amorim da Franca, integrante das duas principais famílias que fundaram o distrito há mais de 100 anos. “Aqui a gente pode dormir de portas abertas”, garante a funcionária do Posto de Saúde Antonia Dias (Vaneide).

Padre Cícero

O major Santos afirma que a violência está relacionada, também, à formação moral e religiosa da comunidade. No caso do distrito de Campo Alegre, a vocação religiosa da comunidade está na entrada do distrito, onde foi erguida uma estátua do Padre Cícero. Os moradores têm um motivo sentimental para reverenciar o Padim. Naquele pedaço de chão está plantado o tronco familiar de Padre Cícero.

ANTÔNIO VICELMO
Repórter

ENQUETE
Segurança é destacada pelos moradores

Rosa Bernardino
Moradora

Padre Cícero deu tranqüilidade à comunidade. Cabe ao poder público melhorar as condições da estrada.

Dalmir da Franca
Agricultor

Todos nós somos parentes do Padre Cícero que celebrou missa aqui. E somos gratos pela segurança.

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