sábado, 14 de março de 2009

30 consumidores buscam recálculo de dívidas por dia


Reclamações contra bancos, financeiras e cartões correspondem a 50% do total de queixas registradas pelo Procon

A crise financeira global — que levou bancos à lona e deixou de pires na mão boa parte da população da maior economia capitalista do planeta — abre espaço para que a sociedade discuta e reflita sobre seus atuais padrões de crédito e consumo. Nada mais oportuno que o Dia Internacional do Consumidor, comemorado amanhã, para marcar o início deste debate — que encontra respaldo no atual nível de endividamento dos consumidores brasileiro e cearense.

Os números do Programa Estadual de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon Ceará) dão uma dimensão do problema: reclamações contra bancos, financeiras e cartões de crédito correspondem a 50% do total de queixas registradas pelo órgão. Segundo o secretário executivo do Procon/CE, João Gualberto, cerca de 20 a 30 pessoas por dia vão ao órgão para fazer cálculos de dívidas e ter algum parâmetro de renegociação com os credores.

“Antes, tínhamos apenas um funcionário para fazer estes cálculos. Agora, estamos com dois por conta do aumento da demanda”, relata Gualberto. Para ele, prova do elevado nível de endividamento está também no fato de os serviços financeiros terem passado de 46,68% (7.413) do total de 15.881 atendimentos no Procon/CE, ao longo de 2008, para 49,57% (1.210) dos 2.441 feitos só em janeiro e fevereiro deste ano.

Dos 2.441 atendimentos realizados no Procon/CE no primeiro bimestre de 2009, pelo menos 610 resultaram em abertura de reclamação. Neste aspecto, os assuntos financeiros corresponderam a 35,41% (216) do total de queixas já realizadas no órgão. Em todo o ano passado, de 3.939 reclamações registradas, 1.104 foram relativas a assuntos financeiros (28,03% do total).

Falta educação

O secretário executivo do Procon/CE acredita que o nível estratosférico de endividamento decorre de vários fatores. O principal deles: a falta de educação para o consumo. “As pessoas compram além do limite. Hoje, um pai de família que ganha dois salários mínimos tem um celular, sua mulher tem outro e cada um dos três filhos também”, exemplifica. Além disso, ele cita a demanda desenfreada por supérfluos. “Você tem TV aberta mas quer também canal a cabo e via satélite”, destaca.

João Gualberto também alerta para o excesso de propaganda “bombardeando” os consumidores — muitas das quais, segundo ele, enganosas — instigando o consumo irresponsável. Por fim, ele admite que uma parte dos consumidores que estão com a corda no pescoço são vítimas de encargos abusivos e práticas irregulares por parte das empresas.

“Neste sentido, para aquele consumidor que percebe que há abuso na cobrança dos encargos é sempre recomendável s procurar o Procon/CE para que os cálculos sejam refeitos”, aconselha o promotor.

Para quem está em situação crítica, João Gualberto ainda sugere a renegociação, que pode ser conseguida de forma administrativa, ou seja, sem gerar uma ação judicial. O acordo, lembra ele, tem a vantagem de abreviar o tempo de solução do problema. Na Justiça, pode-se levar até um ano. “As pessoas precisam verificar suas reais condições antes de assumir um ônus. E a família precisa se educar para consumir somente o que necessita”, arremata.

SAMIRA DE CASTRO
Repórter

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