segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Uso do crack aumenta entre jovens do Interior


As drogas, principalmente o crack, levam jovens à morte e famílias ao desespero em municípios do Interior

O crescente uso de drogas não é mais exclusividade das metrópoles. O problema se expande sertão adentro. E o que é pior: O crack prolifera nas periferias de médias e pequenas cidades. Em forma de pó, o derivado da coca chega às classes média e alta sociedade. Enquanto desprezam os riscos, muitos se afundam na dependência. Essa realidade, triste e cruel, está se tornando rotina entre jovens no Interior do Ceará.

Os reflexos dessa perversa chaga são vistos por todos os lugares. Na maioria das vezes terminam nas portas dos cemitérios ou das delegacias. Enquanto a morte não chega, mães desesperadas imploram pelo encarceramento dos próprios filhos. Os menores são encaminhados para abrigos correcionais. Os maiores vão para a cadeia. A única diferença é a idade. No mais, o perfil é praticamente o mesmo: Dependentes químicos, furtando na rua e dentro de casa. Para sustentar a obsessão compulsiva pela droga é preciso pagar. A “pedrinha” do crack custa só R$ 5,00. Para “provar o produto” sai de graça. Mas a aflição materna não tem preço.

Violência doméstica

A dona-de-casa Maria Clara Bezerra sentiu na pele os efeitos devastadores desse mal. Com ele a violência doméstica invadiu seu lar. Encontrou amparo justamente no dispositivo legal utilizado pela Polícia, dado quem já fez de tudo para salvar o universitário Yuri Mariano Bezerra de Lima das drogas. Aflita com a possibilidade do embaraço familiar se transformar numa tragédia ainda maior, não encontrou outra alternativa. Pediu ao delegado que recolhesse o estudante novamente para a cadeia. Três meses antes havia feito o mesmo. Acabou cedendo. Dessa vez o susto foi maior. Yuri continua preso. Ela ora todos os dias para livrar o caçula da cadeia e da drogas.

Outra mãe, Luciana da Silva, também reza pela alma do filho. O adolescente José Tarciano da Silva foi assassinado faz um mês. O motivo do crime, segundo a Polícia, foi uma dívida com o tráfico. R$ 2,00 foi o preço da vida do jovem de 15 anos, que desde os 10 anos cheirava cola pelas ruas de Quixadá. Passou a usar droga mais forte, o crack. Exceto o destino fúnebre, a semelhança com o drama vivido por Yuri não é mera coincidência. Ambos são filhos de famílias desestruturadas. O primeiro é de classe média. Os pais são separados. O segundo, nem conheceu o pai. Morava numa área habitacional popular de Quixadá que abriga famílias carentes.

Casos como esses estão sendo registrados cada vez mais pelo Interior. Na opinião do delegado Domingos Sávio Pinheiro, além do álcool, ainda responsável pela maior incidência de violência no mundo ocidental, a invasão do substrato da cocaína é preocupante.

Até o encerramento desta edição a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) não havia apresentado as estatísticas regionais acerca do consumo e apreensão de drogas. No portal eletrônico do órgão estadual são expostos apenas os indicadores criminais de homicídios dolosos, de mulheres, lesões corporais, roubos, furtos e porte ilegal de armas.

Pelo número de crimes de morte registrados — 21,16 por 100 mil habitantes até agosto passado no Ceará — policiais atribuem a relação de mais de 70% deles ao consumo de algum tipo de droga. Do total, 80% ao álcool, e o restante a substâncias entorpecentes. O crack desponta entre elas.

A opinião do especialista

cmccordeiro@uol.com.br
CARLOS MAGNO BARROSO *

Entender para agir

O uso e dependência do crack e do álcool no Interior do Estado já está bastante difundido. É comum nos serviços de saúde a procura de ajuda, seja de familiares, ou dos próprios dependentes. Podemos identificar, sobretudo entre os usuários de crack, uma certa gradação quanto ao potencial de recuperação. Explico: há pacientes que conseguirão se abster da droga com certa facilidade com apoio psicológico e farmacológico, outros, com uma abordagem mais ampla, psico-fármaco-práxi-socioterápica e outros em que nossos esforços esbarram em repetidos fracassos.

Mas cada caso deve ser visto de forma individualizada, que nenhuma atividade seja prescrita ao “grupo” de forma massificada. Quanto ao tratamento do alcoolismo, já podemos ver com mais facilidades estatísticas de recuperação com a intervenção farmacológica e psicoterápica breve.

Este ano, o Instituto Episteme oferecerá um curso de capacitação sobre dependência química voltado para profissionais de Caps AD, Caps gerais e pessoas interessadas. Antes de agir, acreditamos que é necessário entender.

* Psiquiatra - diretor do Instituto Episteme

O QUE ELES PENSAM

Assistência ao usuário deve ser prioridade

A ociosidade é a grande arma do traficante. No País, se o poder público não atentar para o grave problema a sociedade se tornará refém dos marginais. O Sul está numa guerra. É preciso agir, do contrário, em breve, as trincheiras dessa batalha se formarão dentro das casas dessa gente simples do Interior.

Domingos Sávio Pinheiro
Delegado de Polícia

Não é fácil curar essa doença social. É prioritário aparelhar as instituições de segurança e desenvolver políticas
para assistência do usuário, bem como fazer a prevenção nas escolas. A família deve superar sua postura inerte diante do perigo. Os traficantes têm a favor o preço e o poder de vicio do crack.

Nelson Gesteira Monteiro
Promotor de Justiça

Nos preocupamos com o desenvolvimento de atividades para os jovens. Ocupações saudáveis são boas opções para afastá-los das drogas. É preciso que o Estado também faça a sua parte. A repressão é um importante mecanismo contra o uso indiscriminado das drogas. O crack é uma epidemia.

Ilário Gonçalves Marques
Prefeito de Quixadá
Alex Pimentel
Colaborador

Mais informações:

Delegacias Regionais da Polícia Civil no Interior
Quixadá, (88) 3445.1047
Crateús, (88) 3692.3504
Tauá, (88) 3437.1888

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