terça-feira, 3 de março de 2009

Número de transplantes cresceu 35% este ano no Ceará


Estado foi o primeiro, no ano passado, em transplantes de coração em números relativos por milhão de habitantes

No ano passado, os transplantes aumentaram em mais de 10% no Brasil, em relação a 2007. Mas no Ceará, o crescimento foi maior, atingindo os 19,5%. Em geral, este ano começou bem para o setor. Houve aumento de 35,8% (125 procedimentos)em quantidade de transplantes realizados em janeiro e fevereiro, comparando 2008 com 2009.

Além disso, o setor comemora reconhecimento nacional. A equipe de transplante de coração do Hospital de Messejana fez 31 procedimentos em 2008, o que coloca o Estado no primeiro lugar em doações a cada milhão de habitantes. Tanto êxito no Estado do Ceará é atribuído a investimentos e capacitação no setor.

As negativas familiares, que já foram metade das entrevistas após a morte cerebral do possível doador, agora têm índice de 23%. Porém, a falta de informação e o preconceito ainda são entraves no processo.

No ano passado, segundo a Central de Transplantes de Órgãos da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), no Ceará, foram realizados 739 transplantes, 19,5% a mais que em 2007, quando foram feitos 618. Em 2006, haviam sido feitos 446. Este ano começou bem em relação a 2008. Foram 125 em janeiro e fevereiro contra 92 em igual período do ano passado, o que representa aumento de 35,8% em procedimentos.

Na opinião da assistente social da Central de Transplantes, Rosângela Cavalcante, os números revelam salto de qualidade do serviço no Estado do Ceará. Segundo ela, ao longo do ano, foram intensificados investimentos em capacitação, na carga horária das equipes transplantadoras e nas 16 Comissões Intra-Hospitalares de Doação de Órgãos.

Portaria do Ministério da Saúde determina que hospitais com mais de 80 leitos precisam ter estas comissões, sendo que cada uma deve ser formada por, no mínimo, três profissionais de nível superior.

“Antes era muito centralizado na Central de Transplantes, que fazia a busca ativa, telefonava, ia pessoalmente aos hospitais. Hoje a comissão faz a notificação para a Central e daqui começamos a articulação”, explica a assistente social da Central de Transplantes do Ceará, Rosângela Cavalcante, avisando que os profissionais fazem até entrevista com as famílias de potenciais doadores.

Outro aspecto que melhorou o serviço, na avaliação da assistente social, foi a contratação de cinco técnicos em enfermagem e oito médicos oriundos de concurso público. Com isso, foi possível aumentar a carga horária de atendimento no setor. Rosângela Cavalcante adianta que, neste ano, psicólogos e assistentes sociais serão nomeados para incrementar as equipes. “Outro apoio que intensificamos foi com as associações de transplantados. Um total de 80 pessoas fez curso de coordenação educacional”, afirma.

Hoje estes transplantados vão se reunir com integrantes da Central, na Sesa, para discutir projetos de sensibilização e de educação permanente que eles desenvolveram. “Ninguém melhor do que eles, que já estiveram na fila à espera de um órgão, para sensibilizar as famílias de possíveis doadores”, acredita Rosângela.

Outro foco que a Central está dando para melhorar o serviço tem como base a descentralização. Em abril, haverá cursos de capacitação na Santa Casa de Sobral e em hospitais do Cariri. “Com a interiorização, a discussão vai sendo disseminada e se cria a cultura da doação, para isso se tornar mais natural. As pessoas ainda têm receio de falar em morte. Mas se em vida a pessoa se manifestar a favor, a família recebe melhor a situação”, analisa.

No ano passado, segundo Registro Brasileiro de Transplantes (RBT) da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), foram identificados no Ceará 237 potenciais doadores, o que equivale a 29,3% dos diagnósticos de morte cerebral, e 154 não doadores (65%). Do total, 83 ou 35% resultaram em doadores efetivos ou 35%. O índice coloca o Ceará no terceiro lugar do ranking nacional, perdendo apenas para São Paulo (40,2%) e Paraná (37,3%).

NO PAÍS
Hospital de Messejana é referência

O primeiro transplante de coração no Ceará foi feito em 1997. De lá para cá, o serviço se modernizou e hoje é de nível internacional. É que unidades que ultrapassam a meta de 30 procedimentos por ano — no ano passado o Hospital de Messejana Dr. Carlos Alberto Studart Gomes realizou 31 — tornam-se referências mundiais.

Aqui a média foi de 3,8 procedimento por um milhão de habitantes. O Paraná fez 3,3 na mesma proporção (34 em números absolutos); São Paulo, 1,8 (72 casos); e Minas Gerais, 1,4 (26 procedimentos). A média brasileira é de 1,1 a cada um milhão de pessoas, o que equivale a 200 transplantes.

Dos estados que realizam esse tipo de trabalho, a Bahia foi o que fez menos procedimentos, sendo 0,1 por milhão de pessoas ou dois casos. O detalhe é que aqui o trabalho foi feito por apenas uma equipe transplantadora, a do Hospital de Messejana, o popular Hospital do Coração. São Paulo, por exemplo, possui nove equipes e o Paraná, seis.

Para o coordenador da Unidade de Transplante Cardíaco do Hospital de Messejana, João David de Souza Neto, o resultado revela que a unidade passa por “estágio de amadurecimento, organização, prestígio e conceito do serviço”.

Contudo, ele alerta que os bons índices são sazonais. Este ano, por exemplo, não começou tão animador. Até ontem haviam sido feitos só três transplantes de coração em dois meses. “Se fizer um por mês, para os números brasileiros, é um número bom. Mas dois ou 2,5 por mês já se torna ruim”. Ele diz que espera melhorias com o fim da temporada de férias.

Sobre o transplante de pulmão, que há anos é cogitado para ser feito no Ceará, o médico afirma que os estudos estão “em organização” e em fase de formação. Hoje, no Brasil, só são feitos procedimentos do tipo em São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.

É a terceira vez que o Hospital de Messejana se destaca. Em 2007 e 2006, a unidade também foi a primeira no ranking das instituições que mais realizaram transplantes de coração. ‘‘Com o feito de 31 transplantes, o Hospital de Messejana passa a integrar um seleto grupo de hospitais no mundo que realizam mais de 30 transplantes por ano’’, revela Juliana Rolim, cardiologista da equipe de transplante.

Há três anos o País não tinha resultados tão positivos na área. Foram dois anos de queda seguidos por um de estagnação. Só em 2008 surgiu o crescimento significativo nas taxas de doação (15%), embora a taxa de doadores efetivos (7,2 por um milhão de pessoas) apenas tenha se aproximado da obtida em 2004 (7,3). Só os transplantes de coração aumentaram 25% e o combinado de rim e de pâncreas, 9,8%.

Só no Ceará as taxas de doação aumentaram 19%, índice que coloca o Estado em 6º no ranking — o primeiro em acréscimo de doações foi o Espírito Santo, com 65%, seguido de Pernambuco (44%), Minas Gerais (39%), São Paulo (29%) e Goiás (27%).

O Ceará aparece à frente de Santa Catarina (13%) e do Distrito Federal (5%). Houve queda no número de doações no Mato Grosso, Paraná, Rio de Janeiro e Maranhão.

DOE DE CORAÇÃO
Campanha fortalece doações de órgãos

A campanha “Doe de Coração”, que a Fundação Edson Queiroz realiza desde 2003, tem ajudado na conscientização acerca da doação de órgãos. O trabalho é feito no sentido de esclarecer a população sobre o processo, que deve ser encarado de forma natural e simples, não como uma agressão ao possível doador.

Como reconhecimento da importância da campanha, em 30 de janeiro último, a presidente do Grupo Edson Queiroz, dona Yolanda Queiroz, foi laureada, em São Paulo, com o prêmio “Amigo do Transplante”. A homenagem, criada pela Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), é destinada às pessoas ou instituições que contribuem para o aumento de transplantes de órgãos e tecidos no Brasil.

O fortalecimento das doações se reflete em números. Houve crescimento significativo entre 2002 e 2003. No ano anterior ao lançamento da campanha, foram doados 296 órgãos, sendo 182 de córnea; 98, rim; oito, fígado; e oito, coração. Já em 2003, quando a campanha foi iniciada, o número subiu para 420 órgãos, o que representa um aumento de quase 42%.

O objetivo da campanha é fazer um alerta permanente, a fim de que a população desperte para a doação e a entenda como um ato de amor ao próximo. Também fazem parte dos recursos de informação a divulgação em cartazes, camisetas, cartilhas educativas e palestras com especialistas.

Marta Bruno
Repórter
Diário do Nordeste

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