O Ipea estima que a igualdade racial na renda familiar no Brasil só será atingida em 21 anos, em 2029
Brasília. A renda das famílias brancas no Brasil é, em média, 2,06 vezes maior que o rendimento das famílias negras. Essa é a conclusão do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com base em cruzamentos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2007.
O estudo afirma que, entre 1986 e 2000, essa diferença foi estável em 2,4 vezes, mostrando que em 2007 houve apenas uma pequena queda. ‘‘O fato de as famílias brancas receberem pouco mais de duas vezes o rendimento das famílias negras é um dado preocupante e reforça a existência de uma desigualdade estrutural e histórica no país’’, lamentou o pesquisador do Ipea, Mário Thedoro.
Em uma projeção otimista, o Ipea afirma ainda que, se esse ritmo se mantiver, a igualdade racial na renda familiar só será atingida em 21 anos, em 2029. Porém, segundo o pesquisador do Ipea, Mário Theodoro, nem isso deve acontecer, já que os programas sociais já estão no limite. Esses mecanismos são focados na população pobre, estrato onde está a maior parte dos negros, e quase todos que deles podem se beneficiar já estão incluídos. Para Theodoro, o Brasil deveria ter novos programas focados diretamente na população negra.
O estudo do Ipea mostrou ainda que a pequena diminuição da diferença entre brancos e negros se deve em 72% à melhor distribuição geral de renda no país. Apenas 28% dizem respeito a ganhos adicionais de fato dos negros. Mas a redução da desigualdade até agora não pode ser atribuída à redução da discriminação racial necessariamente, segundo o Ipea.
Por causa do grande percentual de negros nas camadas mais pobres da população, a melhoria na distribuição geral da renda teve reflexos diretos na redução de desigualdades por raça. ‘‘É possível que que a redução da razão de rendas não seja conseqüência de uma redução nas práticas discriminatórias e sim do fato de negros serem maioria entre os beneficiários do Programa Bolsa Família, dos benefícios previdenciários indexados ao salário mínimo, do Benefício de Prestação Continuada e dos outros mecanismos de redução da desigualdade geral”, mostra o relatório do Ipea.
Segundo a análise, 72% da queda da desigualdade de renda entre negros e brancos se deve à redução generalizada da desigualdade na sociedade brasileira e apenas 28% aconteceu em razão da mobilidade social dos negros, com migração para para classes mais altas. A ausência de políticas de ação afirmativa “de grande envergadura” é apontada pelo Ipea como causa principal desse desequilíbrio. “A pobreza é predominantemente negra e a riqueza é predominantemente branca”, ressalta o estudo.
Ainda segundo o Ipea, o Brasil tem 14 milhões de jovens com renda familiar abaixo de meio-salário mínimo, o que significa 30% da população entre 15 e 29 anos. O país conta com 50,2 milhões de jovens, o que representa 26,4% da população. No ano de 2050, segundo estimativas do Ipea, os jovens serão apenas 19% da população brasileira.
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
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