domingo, 5 de outubro de 2008
SERTÃO CENTRAL: Primeira prefeita do Brasil
Quixeramobim. Aos 12 de outubro de 1958 a 13ª junta apuradora da Justiça Eleitoral da comarca de Quixeramobim declarava encerrada a apuração dos votos para o cargo majoritário no município sertanejo situado a 206km de Fortaleza. O extrato da ata geral anunciava Aldamira Guedes Fernandes vencedora do pleito para o Poder Executivo local. Com maioria absoluta de votos, exatos 59%, comemorava a conquista, sendo empossada aos 25 de março do ano seguinte. No Brasil, pela primeira vez, uma mulher assumia o cargo por meio do voto livre.
Daquela época, a pioneira no cenário político nacional recorda que não existiam comícios, não se distribuíam bonés e nem blusas dos candidatos; não haviam carros de som fazendo propagandas pelas ruas, cartazes e nem outdoors. Ela explica que só existiam duas amplificadoras de som na cidade. Uma delas, a da Paróquia de Santo Antônio e a outra, do radialista Fenelon Câmara. “A gente tinha que conquistar o eleitor era na visita, na conversa, mostrando nossas propostas de trabalho. Era comum a gente pedir o voto às comadres e compadres, assegurando por conta disso, uma boa margem de votos”, diz ela.
A ex-prefeita conta ainda que, naquele período, no dia da eleição, era permitido fornecer o transporte e alimentação dos eleitores. Dependendo da ocasião se matava um ou dois bois para o preparo da merenda e do almoço. O quintal dela ficava cheio de panelões no fogo fazendo a comida que era generosamente distribuída. “Nós os tratávamos muito bem. Era assim que acontecia naquele tempo, uma prática adotada por todos os candidatos. Por ser uma época de grandes dificuldades, isso se tornava um ato de apoio ao eleitor”, lembra.
No vigor dos seus 85 anos bem vividos, como faz questão de ressaltar, lembra ainda que, no dia de sair para votar, as pessoas tinham por costume vestir a melhor roupa. Faziam questão de exibir elegância, como se fossem a uma festa. Todos faziam questão de estar bem apresentados. Ela falou também do trabalho das Juntas Apuradoras. A contagem dos votos era totalmente manual, no prédio da Prefeitura. Não aconteciam desentendimentos. “Tudo era feito dentro da ordem exigida pelo juiz da comarca”, explicou a única prefeita de Quixeramobim.
Época de Ouro
Naquela época de ouro — fim da década de 50 e início dos anos 60 — a capital federal mudava do Rio de Janeiro para Brasília. O Brasil vivia um período de democracia formal. A bossa-nova, o teatro de arena e o cinema novo se destacavam no Sudeste. Ainda havia forte resistência à emancipação feminina. O machismo imperava. Todavia, com o apoio do marido, o médico Joaquim Fernandes — já falecido, que por duas vezes já havia sido prefeito deste município —, “Dona Aldamira”, como era tratada por seu povo, jamais enfrentou discriminação na cidade.
Acerca das atuais disputas, ela diz ser favorável à destinação de verbas públicas para o financiamento das campanhas eleitorais. Justifica a medida como alternativa para evitar que os candidatos de grande poder econômico levem vantagem em relação aos que não contam com o artifício monetário. Ela vê com preocupação a questão da influência financeira no pleito eleitoral, principalmente quando candidatos possuem ótimas propostas de trabalho, mas poucos recursos. Com a desigualdade fica muito difícil serem eleitos.
O historiador e professor, Marum Simão, destaca em seu livro “Quixeramobim, recompondo a história”, editado em 1996, que Aldamira exerceu o mandado constitucional até 25 de março de 1963.
Ela foi de fato e de direito popular, a primeira mulher brasileira a se tornar prefeita através das urnas. Foi eleita pelo Partido Social Democrático (PSD), anos mais tarde transformado no Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Com a Constituição de 1988, o partido recebia mais uma letra, surgindo o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB).
ALEX PIMENTEL
Colaborador
Diário do nordeste
SAIBA MAIS
Primeiro-cavalheiro
Quando um homem é eleito prefeito de algum município, sua esposa se torna a primeira-dama da cidade. A mulher do governador também é tratada como primeira-dama, mas, agora, do Estado. Já a companheira do presidente, é considerada a primeira-dama da nação. Quanto ao marido de uma mulher que assume qualquer um desses cargos, de acordo com as regras da ortografia brasileira, por se tratar de um substantivo composto, deve-se substituir o gênero feminino pelo masculino, portanto: dama por cavalheiro. Daí, passa a ser chamado de primeiro-cavalheiro. A construção pode parecer estranha, no entanto, é correta, afirmam os especialistas.
Prefeita
O Tribunal Eleitoral do Rio Grande do Norte cita Luiza Alzira Soriano Teixeira como a primeira prefeita do Brasil. Em 1928, aos 32 anos, disputou as eleições pelo Partido Republicano, no município de Lages, naquele Estado. Venceu o pleito com 60% dos votos. Tomou posse em 1º de janeiro de 1929, quando também se tornou a primeira mulher a assumir o cargo na América do Sul. Todavia, ela foi eleita mediante nomeação do governador, como previa a lei naquela época. Com a Revolução de 1930 perdeu o mandato por não concordar com as exigências do governo Getúlio Vargas.
Mulheres
Segundo o escritor Fernando Dannemann, o Rio Grande do Norte foi o primeiro Estado brasileiro a autorizar o voto da mulher nas eleições, assim, a primeira eleitora do País foi a potiguar Celina Guimarães Viana. Ela conseguiu o alistamento eleitoral invocando a Lei Saraiva, promulgada em 1881. A legislação imperial determinava direito de voto a quem tivesse renda mínima de dois mil réis. Entretanto, o voto feminino só foi regulamentado oficialmente em 1934, com a implantação do Estado Novo, na Era Vargas.
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