quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Sertão Central: Pesquisa aponta desinformação sobre a dengue

Pesquisa realizada por biólogo aponta deficiências nas ações de combate ao mosquito Aedes aegypti

Quixadá. Nesta época do ano, quando a dengue ainda não deu trégua à população brasileira, o coordenador de vigilância ambiental de Quixadá, biólogo Clemilson Nogueira Paiva, alerta para a necessidade de aprimorar o combate à doença. Com a conclusão das análises de uma pesquisa pública realizada há cinco meses por sua equipe na maior cidade do Sertão Central, o epidemiologista detectou o desconhecimento do foco da doença, a larva do Aedes aegypti, como principal fator para sua proliferação. “A falta de conhecimento da Biologia sobre o mosquito interfere diretamente na ação preventiva”, avalia o especialista.

A análise leva em consideração o resultado do questionário aplicado em 206 moradias do Campo Novo, o mais populoso bairro de Quixadá. Segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde, naquela área residencial são registrados os maiores índices de infestação do mosquito no município.

Embora 91% dos entrevistados tenham citado dois ou mais sintomas da dengue, 44% não souberam informar como se contrai a doença. Na opinião do pesquisador, uma clara demonstração de que as campanhas de orientação estão centradas, apenas, no combate aos sintomas e à enfermidade.

Intensificar ações

Por meio das sete perguntas formuladas no questionário também foi possível identificar que 60% reconheceram a larva como sendo uma fase do desenvolvimento do mosquito. Mesmo assim, havia foco em 13,6% dessas casas. Dentre os 40% dos entrevistados que não souberam fazer a relação, os índices foram mais elevados, chegaram a 44%. Os dados demonstram a necessidade de intensificação das ações de educação em saúde e não somente no diagnóstico da doença.

Aprendendo como o mosquito se desenvolve será possível evitar a multiplicação do minúsculo transmissor. “Prevenir ainda é o melhor remédio contra a doença”, destaca o estudioso. Sobre a iniciativa, Clemilson Paiva justifica que a avaliação surgiu com o questionamento de um fator muito importante: Porque a população não faz a sua parte, já que é tão simples combater a dengue?

Com o segundo maior número de casos da doença desde 1986 e a confirmação deles em Quixadá a partir de 1994, desde então se agravando a cada ano, porque os esforços no sentido de controlar a epidemia, superior a 30% em alguns bairros da cidade, não surtem resultados mais satisfatórios? O limite tolerável apontado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é de apenas 1%.

Revisão de valores

Um dia após o Ministério da Saúde divulgar a liberação de R$ 6,8 milhões com a finalidade de potencializar 33 Secretarias Municipais da Saúde no Ceará, na realização de ações complementares de combate ao mosquito, a secretária de Saúde de Quixadá, Ivonete Dutra Fernandes, justifica que o repasse mensal feito para a vigilância à saúde no município é um pouco superior a R$ 15 mil.

A folha de pagamento com os agentes das endemias ultrapassa os R$ 40 mil. Ela vê a urgente necessidade de revisão dos valores, vez que as metas governamentais estabelecem a contrapartida local de, no máximo, 30% dos investimentos nas ações de prevenção.

Para driblar a deficiência econômica, a equipe da Secretaria de Saúde de Quixadá aposta em alternativas como o programa radiofônico “Em sintonia com a saúde”, transmitido aos sábados por meio da Monólitos AM; nas palestras realizadas nas associações dos bairros; na colaboração dos atiradores do Tiro de Guerra e, inclusive, no apoio da terceira idade. Todos juntos formam o batalhão da saúde.

Casos isolados

Embora nos dois últimos meses tenham sido notificados apenas dois casos de dengue na cidade, ainda continua a luta contra o mosquito transmissor da doença, já que até no início de setembro foram notificados 1.161 casos suspeitos da doença, com 629 confirmados. Destes, 587 são de dengue clássica, 36 de dengue com complicações adversas, inclusive com um óbito. Desde 1994, quando foram diagnosticados 824 casos, 2008 é o ano que apresenta o segundo maior índice de registro da doença.

SAIBA MAIS

Boletim

Segundo boletim da Secretaria Estadual de Saúde emitido esta semana, a situação no Estado é a mesma. Nos últimos 22 anos, depois de 1986, 2008 registra o segundo maior número de casos da dengue. Até o dia 10 passado foram notificados 60.294 casos suspeitos em 179 municípios, com 41.305 deles confirmados.

Grave

No tipo mais grave da doença, a dengue hemorrágica, 437 foram positivos. Resultaram em 16 óbitos. Outras oito mortes decorreram da dengue com complicação. Mas esses números podem se elevar, pois outros 16 casos ainda são investigados e podem chegar passar para 38.

Questionário

O questionário aplicado pelo biólogo Clemilson Nogueira Paiva em Quixadá, perguntou aos moradores: Como se contrai a dengue? Você considera a dengue uma doença grave? Por que? Quais são os principais sintomas? Como se deve tratar a dengue e quando procurar ajuda médica? Como é o mosquito? (Mostrar um tubito com larvas do mosquito para averiguar se o morador reconhece); Como se faz para evitar que o mosquito se instale na sua casa? Onde e como o mosquito se reproduz?

ALEX PIMENTEL
Colaborador
Diário do Nordeste

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