domingo, 26 de abril de 2009

Artesão cria peças inusitadas com recicláveis em Quixadá

Com criatividade, Bin Lata já percorreu vários estados e suas peças foram usadas por cantores nacionais

Olavo Torquato, 30 anos, poderia ser apenas mais um andarilho pelos recantos deste País, não fosse a sua habilidade manual em transformar latas e garrafas descartáveis em arte. Na última década, ele percorreu 18 estados brasileiros, conheceu e produziu mostras de seu talento para artistas famosos como Carlinhos Brown, Belchior e Carla Visi. Agora, Bin Lata, como o artista passou a ser conhecido, resolveu aportar em Quixadá, no Sertão Central.

A relação com Quixadá não surgiu à toa. Demonstrando um pouco de cansaço após peregrinar tanto, resolveu parar um pouco e fortalecer laços com a família. A mãe, Antônia Josefa Torquato, mora na cidade conhecida mundialmente por seus atrativos naturais. É onde ele pretende passar o resto da vida.

O apelido surgiu em razão da forte semelhança que tinha no início da década com o chefe da organização terrorista Al Qaeda, Osama Bin Laden. Convidado a contracenar nas gravações do primeiro filme do padre Marcelo Rossi, “Maria, Mãe do Filho de Deus”, acabou recebendo o título dos atores e produtores. Pegou, mas ele confessa que prefere ser tratado pelo nome de batismo, Olavo. É assim que assina sua arte.

Um minuto. É o tempo necessário para Bin Lata recortar uma latinha e convertê-la num exótico cinzeiro. Os filamentos que sobram viram esculturas metálicas, quem sabe apitos ou qualquer outra coisa que a imaginação permitir. Foi assim com seu esquisito traje de trabalho. Lembra os uniformes do exército romano, ainda do período dos grandes imperadores. Os fundos das latinhas, juntados com pedaços de arame, passaram a reluzir no peito dele, de cantores famosos e até em ensaios fotográficos, lembra com orgulho.

A criatividade surgiu dentro de um ônibus, quando partiu de Tauá, sua terra natal, para tentar a sorte no Paraná, vendendo utilidades do lar de porta em porta. Inquieto, sem ter passatempo interessante nas longas viagens, começou a juntar os pequenos recipientes largados por outros passageiros nos corredores dos coletivos. Puxou um lacre, e outro, e outro. De repente estava com centenas deles. O suficiente para criar bolsas, calçados, sacolas, jaquetas, bermudas, bonés e uma infinidade de peças.

Logo havia formado sua coleção. Criatividade e uma tesoura são os instrumentos de trabalho. Ao conhecer filósofos e ambientalistas, aprendeu a recolher as sobras da produção. Desde então carrega uma garrafa pet a tiracolo. Nela guarda o que para muitos seria lixo. Quanto à tampinha, bom, também não desperdiça. Com mais algumas dezenas será utilizada na confecção de encosto para mais uma espreguiçadeira.

ARTE DE LATA
Entre o preconceito e a valorização

Quixadá. Do que os outros não querem mais. É assim que Bin Lata passou a ganhar a vida nos últimos 12 anos. Nunca lhe faltou comida e nem abrigo. Saiu da roça para conhecer algumas das mais importantes metrópoles do Brasil. Agora, depois de ser adorado pelos baianos e hostilizado pelos cariocas, é acolhido pelos quixadaenses. Alguns olham de uma forma estranha. Outros nem se aproximam achando que é louco, mas aos poucos se acostumam, espera.

Sobre suas andanças, Bin Lata confessa sua admiração aos soteropolitanos. Foi compreendido e valorizado por sua criatividade. Perdeu a conta das vezes em que motoristas de ônibus baianos lhe abriam a porta dianteira, enquanto na “Cidade Maravilhosa” era obrigado a seguir a pé para onde costumava expor. Passou por todo o Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Ficou decepcionado com o preconceito dos cariocas e dos mineiros.

Voltando às suas origens, ou bem perto delas, o cidadão Olavo Torquato tem três desejos. Um é encontrar a filha adolescente, Jeane. Hoje ela tem 15 anos. A última vez que a viu, em São Paulo, tinha três. Vez por outra conversam pelo telefone, mas para matar a saudade nada melhor que um abraço bem apertado. O outro é conseguir ser compreendido e poder ensinar o seu dom e as lições que aprendeu na vida aos adolescentes, recebendo uma remuneração justa. Com o salário pretende construir sua morada, seu último sonho.

Mais informações:
Artista plástico Olavo Torquato (Bin Lata)
(88) 9956.2884
E-mail: binlata@yahoo.com.br

Alex Pimentel
Colaborador
diariodo nordeste

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