Decisão anulou o julgamento de dois suspeitos e determinou a prisão de acusado de mandar matar a religiosa
Belém. Um tribunal do Pará determinou ontem a prisão e um novo julgamento de dois suspeitos de matarem a freira norte-americana Dorothy Stang em fevereiro de 2005, como parte de uma disputa fundiária na Amazônia. A morte da religiosa se tornou um símbolo dos conflitos rurais na Amazônia. Ela passou mais de 20 anos ajudando camponeses ameaçados por madeireiros e fazendeiros, e se opunham à destruição da floresta.
No ano passado, um júri do Pará absolveu o fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura das acusações de ter ordenado que o pistoleiro Rayfran das Neves matasse Stang. Esse veredicto reverteu uma condenação anterior de 30 anos de prisão para Moura pelo assassinato.
Na época, a decisão provocou indignação de militantes dos direitos humanos e de parentes da freira. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também se manifestou contra a decisão do júri.
Na terça-feira, três juízes votaram unanimemente a favor de um novo julgamento para Moura e Neves, que confessou ter feito os disparos. Eles anularam a absolvição anterior por entender que o júri votou contrariando provas do processo, de acordo com nota divulgada pela Justiça paraense.
Eles consideraram também que os advogados dos réus haviam apresentado provas ilegais na tentativa de demonstrar que Neves agiu sozinho, e não sob ordens de Moura. Neves originalmente admitiu que havia sido contratado por Moura, mas depois mudou sua versão.
‘‘Hoje é um grande passo no sentido de restabelecer a justiça nesse caso’’, disse o promotor Felício Pontes Junior. ‘‘Não podemos ter certeza de que ele será condenado em um novo julgamento, mas o mandado de prisão mostra como a corte considera serem sérias as provas contra ele’’, afirmou.
Desde o assassinato da freira, o governo reforçou o policiamento na região da Anapu, mas conflitos violentos pela posse de terras e recursos naturais continuam ocorrendo em grande parte da Amazônia, uma região imensa e onde há escassa presença do Estado.
Um documentário sobre a morte de Stang, narrado pelos atores Martin Sheen (em inglês) e Wagner Moura (em português), ajudou a manter o caso em evidência. ‘‘They Killed Sister Dorothy’’ (‘‘Mataram a Irmã Dorothy’’) chegou a ser selecionado para o Oscar, mas não ficou entre os finalistas.
Dorothy foi assassinada com seis tiros, aos 73 anos de idade, em uma estrada de terra de difícil acesso, a 53 quilômetros da sede do município de Anapu, no Estado do Pará.
Segundo uma testemunha, antes de receber os disparos que lhe ceifaram a vida, ao ser indagada se estava armada, a missionária afirmou ‘‘Eis a minha arma!’’ e mostrou a Bíblia. Ela ainda leu alguns trechos do livro para aquele que logo em seguida lhe balearia. O corpo da missionária está enterrado em Anapu.
0 comentários:
Postar um comentário