Momento mais marcante foi quando passamos na esquina da Duque de Caxias com a Barão de Limeira, já quase chegando no DOPS. Emendando uma conversa na outra, o motorista falou rápido, com seu sotaque carioca: o titio Caldeira disse que tem um carro novo pra nois. Eu observei a cara do Capitão Aílton Guimarães Jorge, reagindo a essa informação. Houve uma breve pausa, logo quebrada por outra pérola do chofer: os subversivos adoram passear nos carros do titio Frias.
2 – Vizinho ao DOPS, funcionava a rodoviária velha, administrada pelo Grupo Caldeira&Frias. Essa concessão pública lhe fora presenteada pelo Governador Adhemar de Barros, golpista de primeira hora. Hoje ainda me pergunto o que A Folha da Manhã fez para ser merecedora de mimo tão generoso? Outro mimo que a Folha recebeu foi por volta de 1979. O então Governador biônico Paulo Maluf chamou o sr. Carlos Caldeira e lhe deu de mão beijada, a Prefeitura de Santos.
3 – É importante registrar a reprodução das fotos dos carros da frota da Folha de S.Paulo incendiados por militantes de esquerda nos dias 21 de setembro e 25 de outubro de 1971 em represália ao fato de o jornal estar colaborando com os golpistas. O Major, hoje Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, comandante da Operação Bandeirantes, publicou uma dessas fotos no seu livro Rompendo o silêncio, onde consta a seguinte legenda: Incêndio em veículo das Folhas, rua Benedito Calixto, Pinheiros (ALN).
4 – Um líder metalúrgico, que fora barbaramente torturado comentava, com muita raiva, essa aliança Folha&Repressão e que ele tomara conhecimento disso por intermédio dos seus torturadores. Óbvio que o escudo protetor que envolve esse assunto funcionou maravilhosamente, pois, nunca nenhum veículo de comunicação de massa, de norte a sul, deu uma linhazinha sequer a esse respeito. Imagine os bonecos dos nossos telejornais falando disso, até parece piada. (Michel Foucault/Deleuze: o fascismozinho ordinário).
5 - Não estarei sendo ingênuo de pensar que um dia ainda lerei nos seus editoriais as razões porque o maior jornal do país teve para torturar, matar, estuprar e chantagear.
Trechos do livro O Golpe na Alma do escritor e crítico Marcius CORTEZ
marciuscortez@hotmail.com
Marcius Cortez lança novo livro
O Golpe na Alma, o novo livro do escritor Marcius Cortez, está sendo lançado pela Pé-de-Chinelo Editorial. Trata-se de um dos mais significativos relatos dos últimos tempos Uma ácida viagem sentimental em torno dos anos pré-revolucionários interrompidos pelo golpe de 1964.Em O Golpe na Alma, ocorre uma conversa com nossa época já devidamente arada pela contundente análise do seu passado. O Brasil do sonho da transformação social, depois o sonho golpeado e, durante tudo isso, a vida correndo solta no olho do furacão.
A obra é uma reflexão emotiva sobre Paulo Freire, sobre Recife, sobre a laboriosa São Paulo, sobre Glauber Rocha, Eduardo Coutinho, Ariano Suassuna, Marco Maciel e Haroldo de Campos.
O Golpe na Alma faz uma previsão sobre o nosso futuro, baseado nas atrocidades que cometemos contra o nosso passado em 96 páginas de prosa.
É ainda uma dura mas construtiva crítica a parte da imprensa brasileira.
Sobre Marcius Cortez
Marcius Cortez nasceu em João Pessoa/Paraíba, em 1944. Atuou na equipe do educador Paulo Freire, como funcionário do Serviço de Extensão Cultural (SEC) da Universidade do Recife, nos idos de 1962/64. Cursou Ciências Sociais, na USP/Maria Antônia, onde foi aluno de Francisco Weffort, Fernando Henrique Cardoso, Florestan Fernandes, Otávio Ianni, entre outros. Foi redator de propaganda e diretor de criação em grandes empresas como DPZ, JW Thompson e Norton Publicidade. Como crítico literário colaborou no Suplemento Literário do Jornal Gazeta Mercantil, de 2003 a 2006. Publicou pela Sette Letras, O Deputado e as Serigüelas, romance político de ficção, que tem prefácio do poeta e crítico literário Sebastião Uchoa Leite.
Ficha Técnica:
Título: O Golpe na Alma
Autor: Marcius Cortez
Editora: Pé-de-Chinelo Editorial
Preço: R$25,00
Páginas: 96
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